1 Outro Ponto

1 Outro Ponto

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A “legítima defesa coletiva” da Sheherazade e os grupos de extermínio são a mesma coisa

Os grupos de extermínio das Polícias começaram com a intenção de baixar a criminalidade em certas zonas das capitais. É uma intenção parecida com a que a sociedade tem hoje, quando prende um suspeito de roubo em um poste depois de linchá-lo. Quando os métodos legais não funcionam, alegam que é impossível reverter a situação e tentam fazer justiça com as próprias mãos. A medida talvez funcione no começo, como foi o caso dos grupos de extermínio, que de fato conseguiram baixar os índices de criminalidade de algumas zonas (claro que os bandidos temiam morrer nas mãos desses grupos). Mas depois, aqueles que se chamam “justiceiros” perdem o senso de justiça e começam a praticar atrocidades. Foi o que aconteceu com as milícias policiais, que atualmente são um dos piores problemas do país.

Hoje mais um adolescente foi linchado e amarrado depois de cometer um roubo. É compreensível o argumento de que a sociedade está cansada da criminalidade, principalmente no Rio de Janeiro. Também podemos entender que os cidadãos presentes em uma cena de roubo tentem pegar o ladrão. Mas nesses casos existe a intenção de linchá-lo, e isso também é crime. Um crime não justifica o outro, a não ser em casos claros de legítima defesa. Mas aqui se trata de descarregar a raiva que sentimos do sistema em uma única pessoa, porque o bandido também é gente, por mais que algumas pessoas achem que não.

Além disso, qualquer medida violenta sem um ato prévio contra a pessoa que revida tira a legitimidade de defesa, porque se trata de um ataque direto. Um ladrão correndo que é pego e preso tem como atacar alguém? Então de onde vêm a legítima defesa coletiva? Ela somente existiria se o ladrão tivesse roubado todos. Ou então se a pessoa roubada conseguisse pegar e bater no ladrão até ele ceder.

Fazendo justiça com as próprias mãos chegaremos a uma situação em que os que se dizem “cidadãos de bem” estarão linchando pessoas na rua constantemente. E, me desculpem, isso não é ser uma pessoa de bem. Podem dizer que eu adote um bandido, fazendo alusão ao comentário da jornalista que promoveu atos desse tipo. Mas se pensarem um pouco, esquecendo os traumas próprios e pensando como um verdadeiro cidadão de bem, vão ver que não existe justiça com as próprias mãos que funcione.

E se mesmo assim não acreditarem, temos o exemplo das milícias, que hoje são um dos piores problemas do nosso país. Matam quem eles consideram culpado e quando eles consideram culpado. É um tribunal de rua que decide quem vive e quem morre. Trata-se de fazer justiça com as próprias mãos ou de crimes sem justificativa aparente? A consciência de cada um pode responder essas perguntas corretamente, desde que tenhamos um pouco de civilidade em nossos pensamentos.

A legítima defesa coletiva da Sheherazade fez a sociedade querer reacionar aos roubos. Ela deve estar orgulhosa de ver seus comentários rendendo frutos. Mas se essa moda continua começaremos a ver casos sérios. Tão sérios quanto o do Amarildo, ou do jovem José Guilherme Silva, de 20 anos, que se “suicidou” dentro de um camburão mesmo desarmado e algemado com as mãos para trás.


Quando a sociedade reaciona com mais violência, perdemos a civilidade e caímos em um mundo selvagem onde o olho por olho vale mais que a Justiça. Por mais que nossa Justiça seja limitada, lenta, e, em certos casos, injusta; linchar e amarrar alguém no poste É CRIME. Como condenar um crime cometendo outro crime? Eles não podem roubar, mas nós podemos bater porque é legítima defesa coletiva. Estamos querendo voltar para a Idade Média com intenções como essa. Sei que a sociedade está cansada de roubos e crimes, mas tudo tem um limite, por favor.

Para os Mensaleiros, toda justiça, para o resto dos presos, esquecimento

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. A maioria (70%) é negra e convive com problemas de superlotação, tortura, mais a ineficácia dos programas de ressocialização e a discriminatória política de aprisionamento. "A realidade é triste e preocupante. Mas falta vontade política para ter um sistema prisional diferente. Ele é medieval há muito tempo", afirmou Lucia Nader, diretora executiva da organização de direitos humanos Conectas, em entrevista à BBC Brasil.

Para aumentar o problema, existe uma incrível passividade da imprensa (tanto da Grande Imprensa como dos da imprensa alternativa), que, ao invés de cumprir seu papel e exigir melhoras, opta por esquecer os problemas que atingem os mais de meio milhão de presos. Mas essa passividade não existe quando o assunto em pauta são os presos do Mensalão. Nesse caso todas as regras devem ser bem cumpridas e, se não, eles se ocupam de fazer um escândalo sensacionalista, porque as regras só valem para certas pessoas que têm importância política em ano de eleições. Os outros presos que se f*.

É uma crítica que vale para os dois lados: conservador e progressista. Afinal: por que as prisões dos petistas são mais importantes que qualquer outro preso? O motivo é, logicamente, político, mas essa equação ganha um tom de cinismo quando analisamos os comportamentos de ambos lados.

De um lado temos os bloggeiros progressistas. Eles, a esquerda, que teoricamente deveria lutar pelos direitos dos oprimidos, passam mais tempo reclamando das injustiças cometidas com o Dirceu e o Genuíno que defendendo outras pessoas em situação parecida ou pior. Quantos presos foram injustiçados no Brasil? Nossa Justiça é seletiva e sempre falha no ponto mais fraco da sociedade: os pobres. Mas com Dirceu nada pode falhar. “Ele deveria estar em regime semi-aberto”, dizem os esquerdistas com tom de indignação. E quantas pessoas já cumpriram suas penas e continuam presos? Eles não merecem um pequeno espaço em algum jornal ou um post em algum dos bloggs que tanto lutam pelos direitos dos Mensaleiros?

Os bloggeiros criticam a Grande Imprensa por tratar os demais de acordo com a “meritocracia” (se esse cidadão é rico e “de bem”, merece justiça, se não, vai em cana). Mas eles não vêem que fazem o mesmo quando o assunto são os Mensaleiros. Passam mais tempo lutando e reclamando de detalhes dos julgamentos da Ação 470 que exigindo pequenas melhoras para toda massa carcerária. Aí entra o motivo político, porque os eleitores petistas querem e se fazem de injustiçados para ter argumentos contra quem diz que eles os mensaleiros são corruptos. Ora, sabemos que Dirceu não é um santo. Ninguém é. Por mais que o domínio do fato tenha sido uma medida suspeita e questionável, devemos acatar a decisão do Supremo e respeitá-la, caso contrário estaremos indo contra os princípios democráticos e, ao mesmo tempo, atentando contra o sistema que a própria esquerda suou e sofreu por criar.

Do outro lado temos a Grande Imprensa, que diretamente nunca se preocupou com a imensa massa carcerária do Brasil, mas com os Mensaleiros eles se preocupam, porque eles devem continuar na pauta de notícias para ajudar a Oposição. Todos sabem que nossos presos têm o costume de usar celular (!). Mas quem disse que a Globo se importa com isso? O problema vem quando o Dirceu usa celular. Aí não pode, é contra a lei. É que a organização que gestiona a maior rede de televisão da América Latina realmente não vê motivo para se preocupar com os presos e com suas vítimas, porque o celular, na prisão, também é usado para cometer crimes.

Tirar os celulares das cadeias não faria a opinião pública ir contra o PT. Mas atacar os mensaleiros, sim. Então esquecem que as televisões são consideradas serviço público, assim como o jornalismo, e simplesmente fazem ataques políticos, que é melhor para eles mesmos. Nossa Grande Imprensa sempre foi seletiva e não mudará tão cedo. Mas o mínimo que poderiam fazer é exigir um pouco de justiça nas prisões, divulgando dados carcerários e mostrando soluções encontradas em outros países. Mas, como disse Lucia Nader, falta vontade política e, como eu disse, falta exigencias do quarto poder, o que teoricamente geraria a vontade política. Mas, em ano de eleições, infelizmente, o que não tem resultados eleitorais não tem importância para quem disputa o poder de forma egoísta.


Para quem quer ler os textos que citei no post, aqui abaixo estão os links:

Blog de Paulo Henrique Amorim

Notícia de O Globo

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Quem são os Black Blocs? Têm boas intenções, mas tática contestável

As intenções dos Black Blocs são respeitáveis: exigem mais qualidade nos serviços públicos (transporte, saúde e escolaridade), defendem a sociedade civil, apontam e divulgam injustiças cometidas pelo Estado (que teoricamente deveria proteger e amparar), divulgam informações relevantes sobre políticos e seus respectivos abusos, publicam a verdade sobre informações que a imprensa distorceu, convocam manifestações com motivos relevantes e lutam pelo direito dos mais fracos (como as pessoas despejadas da Comunidade Alto da Paz, que foram totalmente esquecidas ou ignoradas pela Grande Imprensa).

As intenções dos mascarados são respeitáveis e dignas de aplauso, mas com esses meios de atuação só conseguirão mais repressão. E, com mais repressão, mais indignação da população e dos próprios mascarados, que irão revidar de alguma forma. Com isso temos um olho por olho que pode resultar em mais mortes, o que serviria para justificar (com certo grau de oportunismo) até mesmo uma antidemocrática lei contra o terror.

Quanto mais os Black Blocs insistirem na violência, mais serão recebidos com violência. É algo estudado e conhecido: a violência começa com a perda de diálogo e se mantém até as partes terem condições e vontade de dialogar. Até lá teremos um clima de guerra em cada manifestação, o que só serve para deixar as exigências em segundo plano e para acabar com a única razão democrática de manifestar, que é tornar algo (uma exigência) manifesto. Sem fazer que essa exigência seja manifesta e olhando somente à violência, qual é o sentido de manifestar? Nenhum! É somente guerra.

Com isso, a massa, ao ver as reações provocadas pelas táticas violentas, vai deixando de apoiar quem pretende lutar por seus direitos. As publicações da Veja e do Globo parecem tiros no escuro, mas tem um alvo: as próprias manifestações. São inexatas e com muitas suposições (sempre vinculando a idéia de que, hoje, manifestação é vandalismo). Por isso é importante se manter no pouco que conhecemos desse grupo, sem dar ouvidos unicamente ao ponto de vista conservador da Grande Imprensa.

O movimento cresceu muito desde junho, por isso às vezes podemos ver incongruência nos pontos de vistas defendidos pelos adeptos à tática Black Bloc. Algumas pessoas acreditam que eles defendem um ou outro partido, isso é correto até certo ponto. A presença anarquista é incontestável, mas com o crescimento de pessoas afins, o movimento adquiriu dimensões gerais difíceis de imaginar.

Sabemos que jovens da periferia aderiram às táticas Black Blocs. Mas não sabemos quais são as intenções desses jovens: têm um objetivo claro ou só pretendem quebrar a cidade? Nesse caso cada pessoa é um universo e não é possível generalizar sem cometer erros. Com certeza existem aqueles que acreditam em mudanças quando jogam pedras em vidros. Mas obviamente uma tática violenta atrai cidadãos violentos sem razões políticas claras. Não existe generalização que seja correta nesse caso. Por esse motivo a imprensa não consegue definir quem são os Black Blocs: eles estão querendo dar uma base sólida a um movimento que é “líquido” e que muda constantemente.

Não têm uma ideologia bem definida em toda sua estrutura, inclusive porque o movimento está organizado em rede, sem líderes claros; então falta uma referência. Mas uma coisa é certa: no Brasil, Black Bloc não é mais somente uma técnica, eles são um conjunto, um grupo formado. No exterior Black Bloc é o nome utilizado para a tática de quebrar ícones do capitalismo para conseguir a desestabilização dessas empresas. Mas aqui o termo é utilizado para designar um conjunto que pouco a pouco vai mostrando algumas de suas facetas. Não é somente uma tática, são um grupo cujo grau de organização desconhecemos.

Trata-se de um movimento muito amplo, típico da era da informação. Temos muita informação e pouco esclarecimento. Mas de antemão podemos prever que as táticas violentas serão ruins para o Brasil. No século XXI não existem medidas violentas que tragam benefícios para a população. Os Black Blocs acreditam mais em seus objetivos que nessa teoria, por isso dão socos em ponta de faca. E esses motivos que os levam à luta, que ainda são respeitáveis, ficam em segundo plano dando espaço a uma violência que, longe de conseguir avanços para a população, somente aumentará a repressão e a resposta violenta do Estado, que vai insistir em manter o monopólio da força.


Por isso, se os Black Blocs realmente querem realizar o que defendem publicamente, deveriam mudar suas técnicas e promover manifestações pacíficas, como algumas que tivemos em junho e que contaram até com o apoio oportunista da Grande Imprensa. Caso contrário teremos mais violência, mais mortes, mais repressão e nada de exigências manifestadas. E isso com certeza não são motivos dignos de luta. Muito pelo contrário: deveriam dar vergonha a quem os promove.

A polarizada discussão política no Brasil

Hoje em dia muitas pessoas têm um ódio mortal do Lula. Sei que no Governo dele aconteceram casos muito sérios de corrupção e que, hoje, o PT desperta a verdadeira ira das classes mais altas. Nessa hora da discussão aparece alguém que apóia o PT sem condições e diz que a Oposição também teve corrupção e que, por isso, seus eleitores não podem acusar.

Na verdade, ficar acusando uns aos outros é uma perda de tempo e de energia que não leva à lugar nenhum. Muito pelo contrário! Essas discussões que não passam de trocas de acusações: o famoso, “nós fizemos isso, mas vocês fizeram aquilo, então qual é o problema”? Eu vejo um problemão! Justificamos atos errados dos políticos que gostamos acusando os políticos que não gostamos. Como justificar um crime acusando outra pessoa de crime? A única conclusão útil que podemos tirar de discussões assim é que todos os políticos são imprestáveis (a crise de representatividade do nosso sistema talvez venha de discussões como esta), mas de útil, nada.

Em todos os governos existe corrupção. É um mau que pode e deve ser controlado, mas nunca pode ser extirpado. Nesse sentido fiquei feliz com as prisões dos mensaleiros, apesar de ter visto o dia a dia do ridículo espetáculo midíatico que foi montado e condicionou o julgamento. Mas é a nossa velha mídia, não podemos esperar algo diferente dela (assim como não podemos esperar que ela faça o mesmo com o Mensalão do PSDB, que muitos jornalistas insistem em chamar Mensalão mineiro, desvinculando, assim, a imagem do partido).

Sempre tivemos governos corruptos e infelizmente os casos não vão acabar com a eleição de um ou outro candidato. O que teremos, caso a oposição entre no poder, é menos pressão da Grande Imprensa e menos divulgação do dia a dia de casos sérios de corrupção, como é o caso do escândalo nos trens de São Paulo e Brasília, que ainda não foi bem explicado e não sai nas principais páginas dos principais jornais do Brasil desde 2013. O tratamento da mídia entre casos de corrupção do PT e PSDB é diferente e somente quem não quer ver não enxerga essa diferença.

O certo é que sempre teremos casos de corrupção no Governo. Então não é uma decisão acertada escolher candidato de acordo com o índice de corrupção que acreditamos que cada um tem. Pelo contrário, escolhendo candidato ou partido de acordo com o que ele já fez ou pode fazer de bom para o Brasil, podemos ter uma visão clara de quem queremos governando.

O FHC transformou nossa política macroeconômica e finalmente tirou o Brasil do abismo da Hiperinflação. Apesar das críticas feitas às privatizações e à sua reeleição, não podemos negar que os oito anos dele no poder mudaram o Brasil para melhor. E esses oito anos foram os que condicionaram o sucesso do Lula a partir de 2002. Quando

Ficar com ódio do Lula porque o Governo dele teve casos de corrupção não convence. Só demonstra uma incapacidade de olhar os pontos positivos. Claro que o Brasil está longe de ser um país exemplar. Nossos serviços públicos sempre foram péssimos e a desigualdade social ainda destrói nosso país com seus piores reflexos: violência, crimes e ódio de classes. Mas esses são problemas estruturais que existem desde que o Brasil é independente. O PT poderia ter feito muito mais nesses campos, claro, mas são problemas que demoram a ser resolvidos. Cabe a nós exigir do próximo governo ações mais profundas nesses campos. E aí entram as manifestações, que esse ano têm uma importância incalculável.

Por mais que a imprensa insista com sua visão pessimista e calamitosa relacionada com o PT, o Governo dos Trabalhadores não foi péssimo para o Brasil. Muito pelo contrário. Os pontos negativos já conhecemos, graças à essa mesma imprensa. Os positivos podem ser consultados abaixo, num texto do próprio Luiz Inácio Lula da Silva, cujo conteúdo nunca sairá na Globo, no Estadão ou na Folha, pois esses meios preferem a visão pessimista que atinge o PT, ao invés de promovê-lo.


Se alguém tem curiosidade, leia um pouco. Você perceberá que não estamos tão mal quanto antes.



Porque o Brasil é o país das oportunidades

Por Luiz Inácio Lula da Silva

Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.

Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.

Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.

Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.

Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?

A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.

A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.

Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.

O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?

O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.

Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?

Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?

Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.

E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?

O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.

O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.

Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?

Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.

O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?

A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?

Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.

Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A Copa é uma oportunidade

Hoje, metade da população brasileira apóia a Copa, segundo o Instituto Vox Populi, e, ao mesmo tempo, a aprovação do evento é a menor em 5 anos (caiu para 52%), de acordo com o Datafolha. Dois pesos, duas medidas. Uns acham a Copa boa, outros ruim. Mas, de fato, são somente formas diferentes de ver a mesma realidade. É obvio que sediar um evento dessa magnitude traz resultados positivos e negativos. Cabe a nós fazer um exame completo e averiguar se vale a pena ou não.

O lado ruim já conhecemos: obras superfaturadas, empréstimos que deveriam ser usados em algo útil para a população (e não em estádios que, apesar de lindos, não educam nem curam ninguém), repressão nas manifestações, descaso da classe política em ouvir as reivindicações das ruas e a exposição mundial de nossos problemas estruturais (desigualdade social, problemas em todos os tipos de serviços públicos, etc.).

Mas existem pontos positivos que somente cegos (uma pessoa que rejeita ver uma realidade também pode ser considerada cega) não enxergam. Teremos melhoras em infra-estrutura (não estarão prontas até a Copa, para o azar dos “gringos”, mas nós brasileiros as aproveitaremos em alguns anos), geração de empregos (indiretos, causados pelo aumento da demanda, pois a FIFA não oferece vagas remuneradas) e teremos uma visibilidade que nunca tivemos. Esse último aspecto é intangível, pois não podemos medir com exatidão como essa visibilidade ajuda ao país.

O que sabemos é que a Copa atrai investidores, turistas e a atenção do mundo inteiro. Esse último dado pode parecer bobeira, mas a exposição mundial mostra o Brasil como ele é: com seus pontos positivos sendo ressaltados como forma de propaganda turística e os negativos saindo em brado das ruas e da Internet através de pessoas normais que contam como é o país da Copa. Os pessimistas sentirão vergonha do Brasil, mas esse sentimento nunca ajudou ninguém. Muito pelo contrario: ele nos faz tentar jogar embaixo do tapete certos fatos que são embaraçosos ao invés de diretamente solucioná-los.

Mas isso não vai mais acontecer aqui, pois desde junho paramos de esconder as coisas debaixo do tapete do Carnaval e do futebol para finalmente começar a dizer: “isso é o Brasil, é difícil, mas seja bem-vindo”. Expomos nossos problemas, mostramos ao mundo que estamos cansados de ser passados para trás e, a partir de agora, quando já nos comparamos com outros países e percebemos que temos riquezas para ser um país rico, exigimos serviços públicos dignos dos impostos que pagamos.

Durante a Copa os protestos serão tão protagonistas quanto os jogos. Será um momento chave para a mudança do país. Com uma opinião pública de escala mundial, os manifestantes vão tentar dar ênfase aos problemas que vemos aqui todos os dias. Claro que lá estarão os opositores das manifestações, aquelas pessoas que, apesar de considerar o Brasil uma lata de lixo, também não querem mudanças que provenham das ruas justamente porque o envolvimento da sociedade civil em assuntos públicos e políticos atrapalham seus interesses privados.

Nesse sentido é importante que o motivo de manifestar seja exaltado, e não a violência nos protestos. Em caso contrario temos guerra, e a exigência manifestada (cabe ressaltar que o objetivo de uma manifestação é tornar uma exigência manifesta) fica em segundo plano. Não duvido das intenções dos Black Blocs, mas com essas técnicas violentas a única coisa que conseguirão será mais e mais repressão. É uma lei universal: a violência, que surge com a perda do diálogo, gera mais violência justamente pela falta de diálogo. É impossível construir uma mudança benéfica através da violência. Talvez em épocas mais selvagens fosse possível, mas hoje temos técnicas mais civilizadas de resolver problemas.


Enfim, a Copa, mais que um problema para nós, é uma grande OPORTUNIDADE. Podemos melhorar e tentaremos melhorar de acordo com as possibilidades e com a forma em que as diferentes forças políticas se organizem. Mas uma coisa é certa: esse torneio terá um sabor diferente para nós, pois a sociedade também estará em campo jogando para definir seu próprio destino. E só o futuro dirá se esse sabor é doce ou azedo.

Começando...

Não sou dono da verdade. Ninguém é. Somos donos somente da "nossa" verdade, mas às vezes nem isso. O que vemos dia a dia nos jornais são pessoas que sabem sobre um tema (ou parte dele, pois ignoram e dão ênfase aos fatos de acordo com sua própria história, entendimento e intenções) e que pretendem difundir o modo como vêem o mundo. Por isso vemos tanta discussão: são muitas formas de ver um mesmo fato e mais formas ainda de reconstruí-lo.

Para alguns, Fulano é bandido. Para outros, um salvador. Para os mesmos, Ciclano é um herói, mas, para os primeiros, não passa de um salafrário. Uns acusam e outros se defendem. E, depois, esses mesmos são acusados e começam a se defender... Eu acredito que ninguém é demônio ou santo. Tudo e todos têm seus aspectos positivos e negativos. E é exatamente isso que pretendo por nesse blog: diferentes pontos de vista. Quero sair desse disse me disse e dessas acusações que se concentram nos problemas e esquecem das soluções. A realidade é muito complexa para abranger somente uma versão da história. Devemos abrir nossas mentes, ler textos que se opõem às nossas preferências ideológicas, entender o adversário (que na verdade não passa de um compatriota com outras opiniões) e tentar entender qual é a função de cada um nesse país cheio de misturas chamado Brasil. É isso: manter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda.

Começo esse blog com a pura intenção de participar do debate público chamado Democracia. Esse ano está repleto de eventos importantes e com o "Outro Ponto de Vista" vou me esforçar para mostrar os fatos como eu os vejo, sem influencias manipuladoras e sem uma verdade absoluta. Se cada um é dono de sua verdade, essa é a hora de mostrar a minha. Escrevo por prazer e vontade de fazer algo útil (por mais que eu não saiba exatamente qual é a utilidade de textos como esse). Não tenho porque mostrar somente um lado da história. Não estou preso a nenhuma redação ou ideologia fanática. Dispenso críticas que só acusam e aproveito as construtivas em meu próprio exame de consciência. Hoje começo esse blog e estou totalmente livre para pensar, divulgar e publicar o que quiser quando quiser. Prometo sinceridade e humildade para reconhecer erros que com certeza cometerei. Na próxima publicação já começo com conteúdo. Me ajudem nesse debate e me contem quais são as verdades que vocês acreditam. Assim, com diversas verdades e pontos de vista, conseguiremos ver a realidade com outros olhos.