1 Outro Ponto

1 Outro Ponto

segunda-feira, 31 de março de 2014

Somente reconhecendo erros e perdoando os mesmos superaremos a Ditadura

“Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”... Essa frase é vista como a esperança de muitos opositores à Ditadura Militar, cujo golpe completa 50 anos hoje, 31 de março. Não pretendo discutir quem estava certo ou quem estava errado, mas uma coisa é certa: não existe ditadura que faça bem. Sempre será uma mancha negra na história e seu legado negro sempre existirá nas mentes e corpos de nossos compatriotas. Isso porque se trata de um abuso de autoridade tremendo.

Já dizia Bob Marley que “se você é mais forte, deve proteger o mais fraco”. Mas aqui no Brasil essa filosofia infelizmente não se aplica, pois os mais fortes, os que têm mais condições e os que realmente tem poder suficiente para ajudar alguém com suas decisões costumam se preocupar somente com si mesmo e com seus semelhantes. E o resto que se f*. Esse era o pensamento que dominava o regime e que, hoje, também domina boa parte da população.

Isso porque uma ditadura é puro egoísmo: calam vozes de oposição, impõem um pensamento único e modos de conduta. Tudo que for contra o regime e seu modo de ver o mundo deve ser exterminado. É como um pai autoritário que só acredita em si mesmo e bate no filho cada vez que ele discorda. O que acontece com a criança no final das contas? Dependendo do caráter dela, ou ela acata e vive oprimida ou ela se revolta. E, no caso de revolta, o pai fica ainda mais bravo. Como será a vida dessa criança? Como ela vai olhar e se relacionar com o mundo? É por isso que não existe Ditadura que faça bem ao povo. Não me importo com valores econômicos, com ideologias ou com comparações. Uma ditadura sempre será um período negro e egoísta.

Nossa sociedade mudou muito, mas ainda podemos ver pessoas que mantém esse raciocínio egoísta. São justamente aqueles que pregam intolerância de raças, sexo e que não aceitam outras ideologias. Lembra muito o pensamento militar da época. São justamente aqueles que se revoltam e que hoje, em pleno século XXI, pedem intervenção militar para derrubar um governo eleito democraticamente só porque esse governo não encaixa no que eles defendem. Essas pessoas são, hoje, os pais autoritários que ficaram velinhos e não têm mais poder para mandar no filho. Mas mesmo assim, continuam insistindo, e nunca ficarão felizes, porque exigem dos outros justamente aquilo que não conseguem impor a si mesmos: tolerância, respeito e compreensão. Respondem críticas com mais críticas e nunca reconhecem um erro. Não tenho rancor, nem ódio dessas pessoas. Tento entendê-las e respeitá-las, que é o tratamento que eu gostaria de receber delas.

Somos uma sociedade. Um conjunto. Pessoas vivendo baixo as mesmas condições. Podemos e devemos nos entender para poder caminhar juntos. Caso contrário continuaremos nos acusando, criticando e  sofrendo, assim como na época da Ditadura. Cada um tem seu ponto de vista e todos nós podemos aprender com todos. Se achamos que estamos sempre certos nunca aprenderemos com nós mesmos. Muito menos com os outros. Os velhinhos autoritários devem reconhecer seus erros, mas o filho oprimido ou revoltado deve perdoar o pai. É um esforço que vale a pena. Não existe outra forma de superar uma Ditadura. Não adianta reconhecer erros e não perdoar. A rede Globo apoiou a ditadura, reconheceu o erro e hoje fala disso abertamente. Quem não a perdoou ainda sofre de raiva e impotência até ter tolerância suficiente para entender o próximo.

Todos nós, brasileiros, estamos envolvidos na Ditadura. A forma como reacionamos é o que condiciona a situação atual. Ainda estamos muito polarizados. Ainda somos muito egoístas e não conseguimos entender o outro. E esse egoísmo não se aplica somente aos simpatizantes da Ditadura, mas a todos aqueles que exigem ser aceitos e não conseguem aceitar ao próximo. A todos aqueles que criticam a intolerância de alguém, mas não conseguem tolerar a opinião dessa mesma pessoa. A todos aqueles que exigem melhores condições a certas pessoas desconsiderando completamente outro grupo não menos importante. Somos todos iguais, todos brasileiros. Temos a mesma história e o destino do país será nosso destino.


Passaram 50 anos desde o começo da Ditadura Militar e ainda discutimos quem estava errado e quem estava certo. É preciso menos discussão e mais compreensão. Isso porque discutir sem tentar entender o outro não leva à nenhum lugar. Enquanto tivermos esse orgulho exagerado continuaremos nos acusando mutuamente sem conseguir entender nada. Então, nesse aniversário de 50 anos do Golpe, vamos tentar superar o legado negro da Ditadura com uma forte dose de tolerância, respeito e igualdade. Vale para todos os lados e para todas as pessoas. Chega de intolerância, falta de respeito e de consideração pelos outros. Isso é uma democracia, não precisamos mais de valores ditatoriais. Mas precisamos urgente de valores do século XXI. Cultivar o respeito, a igualdade e a fraternidade já e um bom começo. Ou então podemos continuar cavando velhas feridas. A decisão é de cada um...

sexta-feira, 28 de março de 2014

Série especial - descontrole sexual no Brasil: a pornô-vingança

O primeiro assunto da série especial é sobre a pornô-vingança, que surge quando um ex-namorado publica vídeos íntimos de sua antiga parceira na Internet. Trata-se de uma prática que vem crescendo com a propagação da Internet. Aplicativos como o Whatsapp ou sites próprios são perfeitos para disseminar vídeos em que um casal conhecido aparece fazendo sexo. O problema surge com a exposição da intimidade e a forma que a sociedade interpreta esses vídeos. Geralmente, as pessoas tendem a olhar o homem do vídeo como um conquistador e malandro, enquanto olham a mulher como uma galinha ou inconsequente. A posição dos dois é a mesma: ambos aparecem no vídeo. Mas somente um é condenado socialmente. Por que?

O homem que passa um vídeo da sua ex-parceira geralmente tem a intenção de vingança, o que demonstra um claro desequilíbrio emocional. Em outros casos, ele publica o vídeo só para “se achar”, afinal, o homem conquistador é admirado em nossa sociedade. Mas isso também não é um sinal de equilíbrio e auto-aceitação. Enfim, o motivo pelo qual o homem publica o vídeo é praticamente problema dele e daqueles que idolatram esse tipo de ações, mas, a partir do momento em que ele publica o material, ele involucra uma terceira pessoa, e então aparece um grande desafio para a ex-parceira: superar toda a humilhação e críticas que virão. É um desafio grande para uma adolescente. Será chamada de puta, piranha, vagabunda, etc. Dirão que ela só serve para "dar", que a culpa é dela por aparecer pelada e que ela podia ter imaginado que ele faria isso. Esse último ponto é até verdade, mas o amor não tem essa lógica. Ele se baseia na confiança e no risco. Confiam e arriscam ser traído e enganado, que é o caso dessas meninas.

A sociedade deve rever seus valores. Por que nesses casos o ego do homem é exaltado e o da mulher é pisoteado? O que o homem fez de diferente para receber um tratamento diferente? O homem galinha é visto como um herói e referência no Brasil. A mulher galinha é vista como objeto. O que causa essa diferença? O modo geral que a sociedade vê certas práticas é o que determina seus valores. Todos os dias somos bombardeados com publicidades que mostram a mulher como um objeto a ser conquistado. “Com esse desodorante você conseguirá mulheres maravilhosas”. E o que acontece quando um objeto é feio ou tem uma reputação ruim? As pessoas menosprezam e falam mal dele. É exatamente isso que acontece nesses casos.

O problema não é a publicação de um vídeo íntimo. O problema é como a sociedade trata as pessoas desses vídeos, o que condiciona a reação ao mesmo. A sociedade no geral olha a realidade como se ela fosse um comercial de tevê: o homem tem sucesso porque conquistou e levou a mulher para a cama (o que, segundo comerciais, é o principal objetivo de um homem na Terra), e a mulher, exposta e humilhada, é vista como um objeto impuro e sem função. A publicidade muda valores corretos para conseguir mais vendas, enquanto a sociedade engole esses valores e os adapta à sua forma de ver o mundo. É uma manipulação claríssima e oportunista (os publicitários aproveitam essa brecha e nos ajudam a desenvolver valores incorretos para obter mais lucros).

O caso piora se a mulher exposta não acredita em si mesmo e incorpora as ofensas. Nesse caso, que costuma acontecer com adolescentes, ela vem abaixo e começa a pensar um meio extremo para solucionar uma situação igualmente extrema. É então que aparece a ideia do suicídio. E é então que a sociedade deve entender como é responsável por esses suicídios. Essas meninas não se matam porque são fracas ou impuras. Nem porque acham que estão erradas. Elas se matam porque não conseguem enxergar saída no meio de tanta hostilidade e humilhação. Ou então tomam uma atitude drástica, como aconteceu no México essa semana, quando uma menina esfaqueou 65 vezes uma outra garota que postou uma foto dela sem roupas. Isso aconteceu no México, mas poderia ter acontecido aqui.

A ideia de mulher objeto também é visível na divisão entre mulheres “de bem” e as que são “só para o prazer”. É uma conseqüência dessa determinação. As pessoas supõem que algumas mulheres, entre elas suas mães e irmãs, são mulheres corretas que não fariam esse tipo de coisa. Inclusive por isso existe uma diferença tão grande na forma de abordar o tema com filhos de diferentes sexos. Os meninos são praticamente motivados a conseguir muitas conquistas sexuais, enquanto as meninas têm que “se agüentar” até encontrar a pessoa certa (às vezes nem encontrando a pessoa certa a família entende que ela tem o direito de desfrutar de sua vida sexual). Não querem que suas parentes virem mulheres “só para o prazer”, por isso existe tanta precaução com elas. Muitas vezes as famílias se importam mais com a reputação da família que com a vida da própria filha. 

Mas, enfim, essas ideias não passam de crenças que podem ser mudadas com raciocínio lógico e um pouco de boa vontade. Se começamos a ver as mulheres como seres humanos, com seus defeitos e virtudes, veremos a realidade como ela é e conseguiremos fugir de padrões limitados que machucam certas pessoas. Basta abrir a cabeça e nos colocar na posição delas. Não é tão difícil. Ver qualquer mulher como objeto ou determinar quais são “de bem” ou quais são “só para o prazer” é uma visão muito machista que demonstra inversão de valores. É hora de perceber nossa participação na formação desses conceitos. Só depois desse reconhecimento conseguiremos mudar. As mulheres agradecem.


O próximo post é sobre os encoxadores dos transportes públicos, outro tema sério que vem gerando polêmica atualmente. Quanto às vítimas de pornô-vingança, uma última reflexão: se sua filha ou irmã aparecesse no vídeo publicado, o que você sentiria? E o que ela sentiria? Então pense duas vezes antes de publicar qualquer vídeo desses. As consequencias dessa exposição são sempre cruéis com as mulheres.

quarta-feira, 26 de março de 2014

As Marchas da Família tiveram mais êxito que outras

O centro das atenções             do fim de semana foram as reedições das Marchas da Família com Deus pela Liberdade, realizadas pela primeira vez em 1964, antes do Golpe Militar. Na edição atual, os manifestantes pediram “caça aos corruptos” e intervenção militar no Governo Federal.

Cartolinas anti-comunistas dominaram os meios de comunicação, que cobriram as manifestações de acordo com seus pontos de vista. Os progressistas trataram de menosprezar as exigências dos manifestantes enquanto a Grande Imprensa não duvidou em publicar suas reivindicações. Mas, apesar dos tumultos e gozações da esquerda, os manifestantes conseguiram cumprir com o objetivo de uma manifestação: dar atenção às suas exigências.

Muitas manifestações no Brasil perdem totalmente seu valor quando os meios de comunicação focam na violência e esquecem o motivo de manifestar. Com isso, não existe sentido no ato de manifestar, pois nenhum pedido ou queixa é manifestado. As Marchas da Família, por outro lado, conseguiram mostrar seus ideais que, apesar de não compactuar com os princípios democráticos, foram parar nas páginas dos principais veículos de comunicação do país. Esse é o verdadeiro sentido de manifestar e esse é o verdadeiro papel dos meios de comunicação, que sempre foram e sempre serão um serviço público com a obrigação de publicar o que é de interesse publico (os pedidos manifestados em um ato são sempre de interesse público).

Em uma manifestação normal, convocada pela esquerda e com a presença de Black Blocs, os meios de comunicação costumam indicar rapidamente os motivos que causaram a manifestação, mas optam por dar mais atenção às cenas de violência protagonizadas por aqueles que eles chamam de “vândalos”. Qual é o sentido de manifestar, se a única vertente visível é a violência entre manifestantes e policiais? Qual é o sentido de publicar sobre uma manifestação se o único a destacar é a violência? Nesse caso, imprensa e manifestantes atuam da forma que melhor convém a eles e da que menos convém à população no geral.


A Marcha da Família ganhou muita repercussão apesar dos poucos participantes. Essa repercussão se deve a determinações do jornalismo, que busca dar atenção a fatos anormais e excepcionais (as exigências das Marchas não são normais para o século XXI). Mas isso não tira o mérito dos manifestantes, que obtiveram, em um único ato, melhores resultados que a maioria dos atos que contaram com a presença dos Black Blocs. Deram uma verdadeira aula de manifestação, apesar do preconceito, da alienação e dos tumultos entre os próprios manifestantes. E a imprensa pela primeira vez demonstrou boa vontade em noticiar uma manifestação. O diário O Globo publicou uma grande reportagem mostrando diversas facetas da Marcha. Mas em outros atos centra unicamente na violência. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Ainda não superamos a Ditadura

Passaram quase 50 anos desde o Golpe Militar que deu início à Ditadura no Brasil e até hoje a história não está bem esclarecida. Em meio à polêmica causada pelas intenções da Comissão da Verdade, posições diferentes chocam entre si mostrando como o Brasil ainda não superou a Ditadura. Ao mesmo tempo, existem diversas leis, costumes e situações do período ditatorial que ainda estão em vigor. Isso contribui para esse panorama confuso em que o Brasil se encontra, onde simpatizantes do regime e opositores ao mesmo se atacam mutuamente em redes sociais, sem conseguir chegar a um senso comum.

Nas escolas poucos professores de História se atrevem a dar sua versão da Ditadura, talvez por medo de contrariar o ponto de vista dos pais. É preciso superar esses dilemas. Mas, como superar uma Ditadura cujas determinações continuam valendo nos dias de hoje? Claro que não temos censura nem outras medidas autoritárias. Mas hoje ainda existem políticas que foram criadas durante o período ditatorial. É o caso da política migratória. Hoje, nenhum estrangeiro tem poder político no Brasil graças ao Estatuto do Estrangeiro, que entrou em vigor nos anos 80, seguindo princípios da lógica de segurança nacional. Os estrangeiros não podem "se imiscuir, direta ou indiretamente, nos negócios públicos" do país, e o documento também não permite a regularização de imigrantes não documentados. Essas medidas vão contra as atuais políticas externas do governo e precisam de atualização. Segundo a BBC Brasil, Paulo Abrão, secretário Nacional de Justiça, afirma que a proposta de um novo estatuto será entregue ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na semana que vem e encaminhada ao Congresso em seguida.

Se existe boa intenção em mudar o Estatuto dos Estrangeiros, o mesmo não acontece com a legislação da Imprensa. A Lei de Imprensa de 1967 esteve em vigor até 2009, quando foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Foi feita para cercear a liberdade de expressão e para estabelecer penas duras a jornalistas. Desde sua revogação, o Brasil carece de legislação própria para seus meios de comunicação. Hoje, o jornalista responde aos códigos Civil e Penal por seus excessos. Os meios de comunicação audiovisuais, por outro lado, continuam sem um órgão regulador que determine uma legislação própria para o setor. Órgãos desse tipo existem em países europeus e são responsáveis por analisar o comportamento da imprensa na televisão e radio para estabelecer limites e multas a possíveis excessos. O Brasil, por outro lado, depende do Ministério Público para denunciar violações de direitos na televisão e radio. Trata-se de um tema polêmico que desperta diferentes pontos de vista quando é colocado em pauta. A imprensa praticamente afirma que qualquer legislação desse tipo é um ato de censura, o que supõe uma volta aos padrões ditatoriais. Mas o Governo pretende deixar claro que não existe intervenção no conteúdo dos meios e que, portanto, a censura não é uma opção nas discussões.

Mas a regularização também pretendia afetar o oligopólio da informação, que hoje em dia é composto pelos principais meios de comunicação do país, todos eles com linhas editoriais similares. A Argentina completou sua regularização quando conseguiu limitar  na Justiça o poder do Diário Clarín, opositor ao Governo, obrigando-o a se dividir em pequenas empresas. Mas, aqui no Brasil, o Governo perdeu a batalha quando o ministro Paulo Bernardo assumiu a pasta das comunicações e deixou claro que não trataria a questão da regularização da imprensa para dar mais atenção às empresas de telecomunicação.

Então, como a última tentativa de regularizar a imprensa foi frustrada por falta de consenso, o tema caiu no esquecimento desde as manifestações do ano passado, quando foram realizados protestos na porta da Rede Globo. Quem tem a ganhar com essa falta de legislação é a imprensa, que não sofrerá com multas por excessos nem com divisões em seu patrimônio. E quem perde é a sociedade (principalmente as classes pobres), que continuará pouco representada nos meios de comunicação e seguirá sem pluralidade informativa em televisões e rádios. Com a revogação da Lei de Imprensa de 1967, a sociedade brasileira ficou sem legislação no setor das comunicações. Não se trata, portanto, de uma lei que se mantém desde a época da Ditadura, mas sim da falta de legislação que existe desde o período ditatorial.  

No centro dos legados da Ditadura se encontra a Lei de Anistia. Essa lei segrega nossa sociedade claramente entre quem apóia e quem se opõe. Quem a defende alega que os militantes da esquerda também cometiam crimes e que, por isso, devem ser investigados, assim como os agentes do Estado. Quem se opõe argumenta que o Brasil não puniu seus ditadores porque os mesmos, que cometeram crimes mais graves e massivos, criaram a ideia de Anistia geral que os beneficiou. Ambos estão certos. Mas punir os opressores idosos não resolve o problema. Pelo contrário. Divide a sociedade e polariza mais as opiniões. A Lei de Anistia pode ser injusta, mas foi aceita por todos os lados no período em que entrou em vigor. Questioná-la quase três décadas depois significa tocar velhas feridas que podem causar graves infecções.

É preciso aceitar os fatos: tivemos torturas, seqüestros e assassinatos cometidos por diversas pessoas. Aceitamos esquecer tudo e continuar em frente, então por que insistir em punir somente um lado? A anistia deriva do grego amnestía, que significa esquecimento, ou seja, no seu significado atual provoca um “esquecimento” das infrações cometidas, isto é, cria uma ficção jurídica, como se as condutas ilícitas nunca tivessem sido praticadas. O passado é passado. Para alguém que teve parentes torturados ou desaparecidos é difícil aceitar isso, mas quem não tem pode acatar as decisões de ontem e exigir mudanças, hoje, em outras questões atuais que são mais urgentes. As condutas ditatoriais da Polícia são uma delas. Nesse caso, os mesmo grupos que apóiam os agentes do Estado da época da Ditadura são, praticamente e coincidentemente, os mesmos que apóiam ações autoritárias da Polícia Militar nos dias de hoje. E os mesmos que se opõem aos opressores do passado são quase os mesmos que se opõem à Polícia nos dias de hoje. A diferença é que os oprimidos da Ditadura já morreram ou são minoria, enquanto os da Polícia Militar estão nas periferias e manifestações.

Essa é talvez a questão mais urgente a ser solucionada e, ao mesmo tempo, a mais difícil, graças ao corporativismo por trás das Polícias e à segregação de opiniões que existe na sociedade nos dias de hoje. A verdade é que o Brasil vive um círculo vicioso de violência em que a sociedade continua discriminando a classe pobre com preconceitos históricos, a Polícia continua matando em periferias sem receber nenhum tipo de punição e os bandidos continuam cometendo crimes e sendo presos para, depois, voltar às ruas e repetir o mesmo. Ninguém está satisfeito, mas ninguém está disposto a mudar. É outro reflexo de um problema que surgiu na Ditadura e que aparentemente aumenta cada dia. O problema é tão sério que somente um escândalo midiático internacional poderia dar uma visão realista do monstro que enfrentamos. Nesse sentido, a realização de grandes eventos esportivos no Brasil aparece como oportunidade para mudanças drásticas, pois cidadãos de outros países estarão no Brasil e nosso Governo será responsável por eles. Infelizmente se trata de um problema que só mudará com mortes e crimes com cidadãos estrangeiros ou relevância nacional, caso contrário nunca teremos uma razão pela qual mudar (a morte e tortura de pobres nas favelas não é razão suficiente para a sociedade no geral).


A maioria dos países conseguiu se livrar dos costumes ditatoriais em sua sociedade. Mas o Brasil, com sua imensa mistura de raças e grande polarização de opiniões, ainda não conseguiu dar o salto completo que leva à Democracia.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Chegará o dia...

Chegará o dia em que ricos e pobres serão considerados compatriotas e companheiros. O dia em que progressistas e conservadores irão lutar pelo mesmo: o bem do país. O dia em que a Polícia tratará os cidadãos com dignidade e espírito protetor. O dia em que negros estarão em Universidades públicas e brancos em escolas do Estado. O dia em que o Brasil contará com vagas e recursos suficientes em hospitais e escolas. O dia em que políticos corruptos não chegarão ao poder. O dia em que o pessimismo será substituído pela esperança e força de vontade; e o desânimo será substituído pela determinação e foco no objetivo. Acreditem, nesse dia nascerão pessoas que sentirão orgulho de ser brasileiro.

Chegará o dia em que todos terão o que comer. O que vestir. O que fazer. Um dia em que todas as religiões se preocuparão unicamente com melhora do ser humano. Um dia... será um lindo dia em que deixaremos de olhar nossas diferenças para nos importar com nossas semelhanças. Um dia em que o simples e humilde será mais importante que o egocêntrico e orgulhoso. Um dia em que o mendigo da rua terá tanta importância quanto o político na Mercedes. Os pássaros continuarão no céu, os peixes no mar e os homens estarão juntos por primeira vez. Um dia em que a ajuda ao próximo será mais importante que a ajuda a si mesmo. Um dia em que saberemos entender os outros e, antes de julgar, consideraremos que cada um tem suas dificuldades e virtudes. 

Esse dia chegará e será tudo mais fácil e simples. Deixaremos de nos acusar sem motivos para começar a criticar com fundamento construtivo. Deixaremos de olhar problemas para encontrar soluções. Deixaremos de por a culpa nos outros para começar a olhar onde nós falhamos. E deixaremos de nos importar com opiniões alheias para formar nossa própria opinião sobre nós mesmos.


Chegará o dia em que a vida humana terá mais valor que o mercado, as finanças e os lucros. Sim, esse dia chegará. Pode chegar amanhã ou depois, dependendo da vontade das pessoas. E enquanto esse dia não chega, quem acredita nele será considerado um sonhador. Mas esse sonhador não está sozinho. Porque outras pessoas já sonham com esse dia, hoje em dia. E chegará o dia em que todos sonharão e viverão juntos. Um dia... O dia! O dia em que todos saberão o que fazer e pensar para melhorar a própria vida e a dos outros. Um dia que poderia e pode ser hoje. É questão de perspectiva, força de vontade e fé. Não adianta esperar por esse dia, é preciso construí-lo em nosso interior. Só depende de nós, que fazemos e moldamos cada dia. E, como já chegou a hora de começar a construir esse dia, vamos pensar em nossos atos e rever nossos valores, pois só a reforma interior nos levará à esse dia que não será meu, nem seu e nem dele. Mas vai ser, na verdade, o Nosso Dia.

quarta-feira, 19 de março de 2014

A sociedade tem a Polícia que merece, então é preciso mudar

Os protestos de junho do ano passado e os atuais deram provas de que a Polícia Militar é praticamente a mesma da Ditadura. Prisões autoritárias, abusos de poder, agressões sem sentido e provas plantadas deram origem a relatos indignados que provêem principalmente da classe média. A Polícia que repreende os manifestantes constantemente é a mesma que mata pessoas sem pudor na periferia. Tanto manifestantes quanto os moradores de comunidades carentes não agüentam mais essa corporação que teoricamente existe para proteger e servir. A prática é diferente. Claro que existem exceções, pois às vezes aparece um policial correto; poucas regras e definições são corretas no plano geral. Mas, hoje, a Polícia Militar trata a maioria da população como inimigo.

Ao olhar um policial militar o que sentimos? Achamos que eles vão nos ajudar ou complicar nossa vida? Eu sinceramente tenho que me esforçar para acreditar que aquele policial está lá para proteger. A imagem dele não transmite confiança ou segurança. Muito pelo contrário. Mas não culpo exclusivamente a Polícia, pois ela, assim como a classe política, é um reflexo da sociedade. A famosa frase “os povos têm governantes que merecem” também pode se aplicar aos responsáveis pela ordem. Temos a Polícia que merecemos, por não exigir paz, respeito e dignidade para ninguém (a não ser nós mesmos). A única forma de mudar esse panorama é reformando nossas idéias. Parece bobeira, mas não é.

O Brasil costuma dar valor a idéias egoístas e superficiais. Achamos legal o “jeitinho brasileiro” que facilita tudo e desprezamos quem se esforça para conseguir uns trocados; queremos ser VIPS na balada, mas não exigimos comida para quem passa fome; reclamamos da conduta policial nas manifestações, mas aplaudimos quando a Polícia mata “suspeitos” nas favelas; queremos paz em outros continentes e desejamos a morte de terceiros de nosso país; queremos ficar milionários, mas recusamos uma esmola pedida com desespero; condenamos a corrupção pública e não reclamamos da privada, que acontece ao nosso lado e não queremos ver; queremos que o país melhore, mas pretendemos derrubar os Governos que não são controlados por nossos partidos e reclamamos das circunstancias atuais sem pretender mudar costumes que nos trouxeram onde estamos.

Com a Polícia não é diferente. Ela pretende ter condições de país desenvolvido, mas não quer abrir mão de certas práticas e pensamentos de terceiro mundo. Dessa forma é impossível mudar, basicamente porque não queremos! Somente reclamar das situações não adianta. Temos que refletir e mudar atos e pensamentos que favorecem o aparecimento de atrocidades como a mulher arrastada pela viatura. Não é por acaso que coisas assim acontecem. Existem circunstâncias que criam essas situações. A marginalização das favelas é uma delas. O ódio que sentimos de certos grupos é outra.

Vivemos em uma guerra oculta. As favelas comemoram mortes de policiais e de pessoas ricas simplesmente porque nós fazemos o mesmo. É um olho por olho, dente por dente em que acabaremos todos cegos e banguelas e ainda vamos desejar a morte dos outros. No fundo lutamos pelo mesmo: melhores condições de vida. Mas não percebemos que estamos lutando uns contra os outros! Nesse sentido, qualquer pensamento que gere um sentido de comunidade nos ajuda muito mais do que a morte de alguém. Não adianta mudar a Polícia se não mudamos a forma como a sociedade reaciona às suas ações. Todos os dias pessoas morrem injustamente em todas as partes. Se desejamos justiça e questionamos possíveis abusos, sem nos importar quem é o autor, estaremos dando um passo à um Brasil melhor. Não importa se foi o bandido que matou o civil, o policial que matou o bandido ou o policial que matou o civil: matar é errado. Nunca foi nem nunca será um ato digno ou respeitável. Estamos com valores invertidos se acreditamos que essa é a solução para algo.

Se você, leitor, começar a condenar qualquer tipo de morte, sua família verá o exemplo e pode começar a pensar igual, depois seus amigos, conhecidos, e chegará uma hora que até a imprensa vai condenar qualquer tipo de dano à terceiros. Não adianta ser egoísta e reclamar somente dos casos que estão próximos a nós, pois já fazemos isso e sabemos que não funciona. Devemos então condenar o que está errado. Tudo que está errado. E aplaudir somente o que está certo. Qualquer morte injusta é condenável, não importa quem matou e não importa quem morreu. Por isso é errado surrar um suspeito de roubo (é muito pior bater em alguém que roubar, acreditem), essa (in)justiça com as próprias mãos é outro reflexo da crise de valores em nossa sociedade. Mas isso é outro assunto complexo que exige atenção exclusiva, pois se trata de um tema polêmico.


Enfim, se nos esforçamos e começamos a dar valor ao que realmente tem valor: a vida humana e suas condições (e não seu status); pouco a pouco iremos caminhando à um estado civilizado e correto. Se nossas circunstancias não são corretas é porque nossos valores também não são. Matar todos nossos políticos não é a solução e matar policiais ou bandidos só piora a situação. Mas, condenando qualquer tipo de crime e práticas abusivas, iremos nutrir a sociedade com valores que serão de bom proveito no futuro. E, acreditem, esses valores se espalham rapidamente. Só precisamos deixar que eles toquem nossa consciência; então veremos mais claramente o que é certo e errado. O resto acontece com luta e certeza no que se defende. Está na hora de mudar nossos valores para poder mudar nosso mundo. Caso contrário vamos continuar nessa caminhada que nos leva à terra de cegos e banguelas. E o que a sociedade tem a ganhar com isso? Sangue e mais intolerância. Absolutamente nada que realmente tenha valor. A decisão é sua, minha e nossa. As conseqüências de nossos atos também são suas, minhas e nossas. Depende de cada um.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Atores das eleições de outubro: os meios de comunicação

As eleições se aproximam e os papéis dos atores pouco a pouco se definem. Os meios de comunicação deixam cada vê mais claros suas preferências políticas. Meios como Carta Capital, Caros Amigos e toda bloggosfera progressista começam a proteger e defender o PT de maneira quase cega, enquanto a Grande Imprensa e as redes sociais se encarregam de fazer ataques ao Governo, proteção ao Governo Estadual de São Paulo, e em minimizar notícias negativas da oposição.

A revista Carta Capital sempre fez pública sua ideologia de esquerda. Defendeu abertamente a candidatura de Dilma Rousseff em 2010 e agora não terá uma postura diferente. Da privilégios à razão em suas matérias, buscando argumentos sólidos que reforcem seu ponto de vista. Seu maior erro frente à audiência foi defender o voto do Ministro Barroso, que absolveu os Mensaleiros do crime de Formação de Quadrilha. Os leitores não aceitaram os argumentos indicados e ainda acreditam que aquilo não passa de partidarismo sem limites. O meio de comunicação dirigido por Mino Carta poderia ter dado outros pontos de vista do caso, o que contribuiria para uma visão geral do julgamento, mas optou por manter sua posição de defensora do Governo Federal. Além disso, hoje, nas vésperas de 50 anos do aniversário do Golpe Militar de 1964, a revista mostra a visão esquerdista do fato histórico, o que reforça o caráter que essa publicação, provavelmente a mais conceituada da esquerda, terá nas eleições de outubro.

O Globo, por outro lado, dá destaques ao rendimento da economia, que teve resultados piores que os esperados. Em seus telediarios (principalmente o Jornal da Globo, com Demétrio Magnoli comentando na seção Economia), destaca o pessimismo econômico que vem sendo uma das principais marcas de campanha da oposição, que conta com a participação dos meios de comunicação das Organizações Globo, sempre em contra o PT. Falha O Globo, ao proteger os governantes do Rio de Janeiro, cidade que controlada pelo PMDB, o segundo partido mais corrupto do país de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (o link com a lista completa está no final do post). A gestão de Sergio Cabral vem sendo a mais rechaçada no Brasil, mas o jornal da família Marinho não titubeia ao publicar notícias favoráveis ao PMDB.

A Folha de São Paulo manteve a linha editorial que costuma defender o PSDB e a oposição ao Governo Federal, mas esse ano o jornal da família Frias vem adquirindo um caráter mais neutro que em outras ocasiões chega a atacar Aécio Neves e a elite paulistana, que revela sua ira ou indignação nos comentários das redes sociais (lendo um pouco os comentários de certas notícias é possível visualizar esses comantarios que cito). Essa medida possivelmente existe graças às honestas e imparciais críticas da Ombudsman do jornal, que dava destaque à imparcialidade do jornal em certas ocasiões. A Folha acerta ao publicar notícias que atacam os dois lados, mas, vendo as publicações no geral, ainda é possível observar que as preferências políticas continuam se alinhando ao PSDB. Isso é visível na capa de hoje. A Folha de São Paulo, que, assim como os demais jornais de grande porte do país, demorou em publicar informações sobre o escândalo de trens nos estados de São Paulo e Brasília, foi a primeira em publicar informações sobre uma nova denuncia do Cadê, que aponta irregularidade na licitação de trens na área federal. O jornal não erra em publicar essa informação, mas, como o meio dos Frias se declara imparcial, deveria dar o mesmo tratamento aos escândalos de corrupção do PSDB.

Enquanto isso, a bloggofera continua publicando as informações que defendem o lado político que vão de acordo com suas ideologias. A progressista se preocupa mais em atacar a direita e a oposição que em ressaltar os pontos positivos dos governos do PT. Erram ao não admitir os erros dessas mesmas gestões, que são reais e deveriam ser publicados para entrar na pauta das manifestações que provavelmente acontecerão na Copa do Mundo (e que, se a esquerda não promover, será iniciativa da direita ou diretamente dos anarquistas Black Blocs). A bloggosfera da direita tem o mesmo papel, mas ao contrário. Atacam o PT sem escrúpulos (com direito a ofensas de todo tipo aos políticos) e não pensam duas vezes antes de alertar os fictícios riscos de o Brasil virar uma ditadura de esquerda. Ambos lados mantém sua audiência presa aos mesmos valores, ao invés de mostrar um maior grau de imparcialidade. É preciso contrastar as informações que vemos na Internet (principalmente em blogs) para poder chegar próximo à verdade. Pois ambos lados se preocupam unicamente com um ponto de vista e não desistirão da defesa cega de seus políticos preferidos.

Para terminar, gostaria de publicar uma conclusão vaga, mas com sentido, que tive essa semana. Com a notícia de que o PCC continua mais vivo que nunca, decidi investigar essa facção que já parou a maior cidade da América Latina. Nascida nos presídios, essa facção sempre defendeu os interesses da periferia, ou seja, do povo. Não se importam com os políticos e só querem melhores condições de vida, sem se preocupar com os meios ou com as conseqüências que esse fim pode levar. Não temem em usar a violência e, hoje, contam com um poder financeiro que sequer podemos imaginar. Não estaria o PCC relacionado com os Black Blocs? Ambos defendem os mesmos interesses: o do povo. Não querem políticos e não têm medo de usar a violência. É coincidência demais para não ter um pingo de verdade. 

Essa possível relação é um assunto complexo, mas se trata de uma observação que merece maiores investigações. O PCC é uma organização tão enraizada em nossa sociedade que pode estar presente em qualquer lugar, sem que ninguém perceba, por isso comecei a relacionar fatos. Mas, mais uma vez, é você que deve chegar na verdade que pareça mais real. Pense de cabeça aberta e leia muito, mas, mesmo que você odeie o meio de comunicação que defende "o outro lado", pegue notícias sobre o mesmo tema e chegue a suas próprias conclusões, se não temos mais do mesmo. Vamos votar com consciência. É a festa da democracia modificando os atores que influem na nossa opinião pública. E é ela quem decide quem sobe no palco do poder ou vai para casa no ano que vem.



http://limpinhoecheiroso.com/2013/07/25/ranking-dos-partidos-mais-corruptos/

quarta-feira, 12 de março de 2014

A polarização política na Venezuela

A incrível polarização política que temos no Brasil e em muitos outros países nos dias de hoje causam muitas dúvidas em relação à Venezuela. Aqui em terras tupiniquins temos basicamente duas classes de opiniões que são perigosas: os que apóiam o regime do país bolivariano de forma quase cega e os que usam dados e fatos que ocorrem lá para atacar o governo daqui e espalhar o pessimismo pelas redes sociais. São perigosas porque ambas caem no erro de acreditar cegamente em seu ponto de vista. Com isso não mudam fontes, não buscam novos pontos de vista e não querem ver a realidade além do que acreditam.

Mais uma vez, devemos ter a cabeça aberta para entender mais ou menos o que está acontecendo lá. Se fechamos horizontes, teremos uma visão limitada. Então é preciso saber entender o outro lado, sem preconceitos e sem temores. Esquerdistas brasileiros apóiam o Governo de Maduro e denunciam manipulações da Grande Imprensa brasileira em notícias relacionadas com a Venezuela. Argumentam que o governo de Chávez diminuiu pobreza e que a desigualdade social também caiu graças às políticas centradas no proletariado. Esse índices não mentem. A Grande Imprensa sim. Manipula informações e imagens de acordo com seus interesses e, dessa forma, modelam a opinião pública como querem. Por isso é útil denunciar casos de manipulação em nossa imprensa. Mas os bloggeiros de esquerda não poderiam esquecer de condenar as práticas totalitárias do Governo da Venezuela e nem podem esquecer os horríveis índices de violência que assolam a sociedade e que são motivo de protesto nas ruas do país. É verdade que outros meios de comunicação se encarregam dessa condenação, mas os leitores dos blogs progressistas têm tanto direito de saber a verdade como a audiência da Grande Imprensa. Ocultar fatos nunca fez bem a ninguém.

Não podem esquecer que a criminalidade na Venezuela chegou a níveis insuportáveis. Desde 2003, a população não é informada sobre qualquer cifra oficial a respeito da quantidade de homicídios no país. Os números, segundo a ONG Observatório Venezuelano de Violência (OVV), chegaram a um patamar alarmante: em 2013 o país encerrou o ano com uma taxa de 24.763 mortes violentas, o equivalente a 79 mortos para cada 100 mil habitantes. No Brasil, os últimos dados do Mapa da Violência 2013 indicam que o País mantém uma taxa de 20,4 homicídios por cada 100 mil habitantes, sendo 36.792 assassinadas a tiros em 2010 (dados recolhidos de um artigo publicado na Carta Capital). A extrema polarização política no país complica a forma de atuação da polícia e condiciona as cifras publicadas, que muitas vezes são vistas como meras especulações da oposição.

A Venezuela hoje é, sim, um regime praticamente ditatorial. Considero que a partir do momento em que o Governo começa a calar vozes dissidentes, já temos um caso de totalitarismo. Tive um professor que foi expulso de lá por manifestar, em seu blogg, idéias contra o Governo de Chávez. Mas não, o Brasil não caminha no mesmo sentido, e regularizar a imprensa brasileira nos modelos criados por Franklin Martins não supõe um caso de censura, pois a proposta não afeta o conteúdo dos meios de comunicação (só proíbe a concessão de meios de comunicação à políticos e limita a extensão dos conglomerados, o que teoricamente daria espaço para outras vozes e pontos de vista). Temos no Brasil uma clara situação de oligopólio informativo que limita muito nossa opinião pública, o que, me desculpem, também não é nada democrático.

Se comparamos as condutas de ambos os países, veremos que seguem caminhos diferentes. Aqui, somos menos radicais. Já conversei com Venezuelanos e percebi o alto nível de partidarismo que trazem em seu discurso. E os nomes importantes no PT não têm essa visão cega nem pretendem transformar o Brasil em uma ditadura de esquerdas, ainda que o Foro de São Paulo possa parecer uma ameaça. Essa organização foi criada nos anos 90, se o objetivo dela realmente fosse o Golpe de Estado, já estaríamos com um regime “a la Chávez” implantado. Mas não é o caso.

A história da Venezuela é muito diferente da nossa. Ter um governo que simpatiza com ditaduras de esquerda não significa que iremos ter um sistema igual, assim como uma pessoa que tem amigos gays não necessariamente adotará práticas sociais desse tipo (desculpe a metáfora incomum, só pretendo mostrar um exemplo social). Essa idéia de que o Brasil vai sofrer um golpe esquerdista parece mais desespero da oposição em dar argumentos fortes contra o governo que realidade bem fundamentada. Por outro lado, em momentos de extrema violência em manifestações na Venezuela, e vista a tendência totalitarista do governo de Maduro, o Governo-Dilma deveria esquecer as afinidades políticas para se pronunciar contra as práticas ditatoriais do país, inclusive porque ela sofreu o terror da ditadura na própria pele, e deveria lutar para evitar acontecimentos parecidos em qualquer lugar do mundo. Mas o mundo da política tem interesses ocultos que não conhecemos.


A Venezuela é um ponto chave da cultura informativa mundial. Quem apóia o espectro político da esquerda, costuma apoiar o Governo de Maduro e faz o possível para desmentir informações mal enfocadas. Já quem opta por idéias da direita política, costuma condenar qualquer perspectiva positiva do país e alerta com ênfase o perigo de virarmos algo parecido com a Venezuela. Claro que existem casos em que todas hipóteses são consideradas, e esse é o que mais se aproxima da realidade, mas sem conseguir tocá-la, pois as informações que saem de lá já são inexatas e as que chegam aqui são ainda mais. Enquanto isso pessoas continuarão morrendo no pais de Maduro. É hora de esquecer preferências políticas e começar a priorizar o mais importante: o bem estar de todos.

terça-feira, 11 de março de 2014

Não adianta nada ter vergonha do Brasil

Sentimos vergonha quando outras pessoas percebem nossos defeitos. Uma pessoa tímida sente vergonha quando necessita falar em público (como as pessoas podem perceber a timidez e a falta de confiança em si mesmo, aparece a vergonha). Nunca sentimos vergonha dos aspectos positivos. Pelo contrário, queremos ressaltá-los tentando aumentar nosso ego, o que teoricamente nos daria mais confiança. Mas isso, na verdade, revela uma necessidade de ser reconhecido. E essa necessidade não existiria se nós nos aceitássemos, se entendêssemos que temos virtudes e limites. Não precisamos ocultar defeitos e ressaltar virtudes. Dessa forma viveríamos preocupados com a reputação e esqueceríamos o mais importante: aceitar a nós mesmos. Porque só isso nos permite o auto-conhecimento e só isso nos da a oportunidade de melhorar.

Sei que esse texto parece falar de psicologia, mas na verdade essa reflexão sobre a vergonha no ser humano não passa de uma metáfora. Falo dela porque muitos brasileiros sentem vergonha do próprio país, principalmente agora, quando estamos prestes a receber um dos principais eventos do mundo. Essa visibilidade internacional vai por luz em questões que, por serem negativas, são ocultas e causam vergonha em quem necessita aceitação internacional. Ora, o Brasil não precisa mais disso. Na verdade, nunca precisou. Não sentíamos vergonha quando éramos um dos poucos países que aceitava escravos e sentimos agora que os turistas verão nossos problemas de violência e desigualdade? Esquecemos que muitos dos problemas que temos aqui foram acusados por eles, turistas, cujos antepassados eram colonizadores. Eles que deveriam sentir vergonha por ter levado muitas riquezas que seriam úteis para evitar a criação de uma sociedade tão desigual.

Talvez alguns sintam vergonha, mas na maioria dos casos eles se importam mais em se vangloriar do passado glorioso que tiveram. É o que eu dizia ao principio, ocultamos coisas para não sentir vergonha e ressaltamos outras que nos afirmam e nos ajudam a ser aceitos. O problema disso é que quando a verdade aparece (e ela aparece uma hora ou outra), sentimos remorso, que é até pior que a vergonha, pois ela não perdoa a si mesmo. Então o melhor a fazer é aceitar os problemas que temos e falar: sou brasileiro, sou roubado, sou manipulado e enganado, mas esse é meu país e fazemos o melhor que podemos. Na Europa é assim. Todos sabem que lá existe racismo e muita violência de gênero e ninguém sente vergonha por isso. Tentam, por outro lado, dar repercussão a casos desse tipo, com o objetivo de conscientizar a opinião pública, que em diversos casos faz seu papel e exige melhoras.

Fico triste cada vez que vejo alguém com pena de morar no Brasil. Dizem que a Copa será péssima e têm vergonha de receber um evento desses. Mas, pensando bem, a Copa não será boa nem ruim. Será um misto de fatos positivos e negativos para o Brasil. Devemos aceitar a realidade como ela é, caso contrario passaremos a vida ocultando coisas e ressaltando outras. É melhor então encarar os problemas, alertar os turistas dos perigos que passamos aqui, e mostrar ao mundo as injustiças que acontecem cada dia e que passam impunes aos olhos da opinião pública. Mostrando à todos que nossas escolas são péssimas, que temos pessoas morrendo nos corredores dos hospitais e que nossos governos são profissionais em desviar dinheiro público, passaremos a contar não com a indignação de 200 milhões de brasileiros, mas com a revolta de bilhões de pessoas que, logicamente, não aceitarão as injustiças aqui cometidas.

Dessa forma iremos dizer “basta”! O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer o erro e ir atrás da solução. Sentir vergonha nunca ajudou ninguém. Muito pelo contrário (pergunta a alguém tímido se a vergonha já o ajudou em algo). Ressaltando nossas virtudes, atraímos gente curiosa e mostrando nossos defeitos, influímos na opinião pública mundial. Somos um povo batalhador e pacífico. Nunca precisamos de guerras, apesar do nosso “jeitinho brasileiro”. Nosso povo sofre e ainda tem forças para sorrir com pequenas coisas. É uma grande virtude que não minimiza os grandes defeitos. Temos taxas de homicídios arrepiantes, nossas favelas ainda carecem de saneamento básico e os Governantes se importam mais em ganhar eleições que em ajudar os necessitados. E como solucionaremos esses problemas? Sentindo vergonha e torcendo para que os estrangeiros não descubram nossos defeitos? Não!! É jogando luz na verdade e mostrando ao mundo que queremos mudar. Alguns podem rir de nós. Mas essas pessoas que riem são justamente aquelas que não conseguem ajudar nem a si mesmos. Por outro lado, os que sintam compaixão farão o possível para ajuadar. E existem diversas formas de ajudar, lembre-se das manifestações internacionais de junho e verão como a opinião pública é importante em uma Democracia.

Podemos ficar tristes com nossa situação, pois ela é bem ruim em certos pontos. Mas nunca podemos sentir vergonha de ser brasileiros. Nossa comunidade não merece isso. Pelo contrário. Merece que o mundo saiba o que passamos. Merece pessoas lutando pelo que deveriam ser direitos e que, hoje, são simplesmente determinações ignoradas. Merecemos serviços públicos decentes pelo que pagamos de impostos e merecemos atenção internacional, que saberá o que temos de bom e nos ajudará a solucionar o que temos de ruim.


Então a próxima vez que aparecer um ponto ruim sobre o Brasil, vamos tentar não dizer “imagina na Copa”. Vamos tentar pensar “tomara que isso mude com a Copa”.  E o que não for possível mudar (como por exemplo, do dinheiro gasto em estádios), deve ser lembrado até as próximas eleições, quando a resposta deve vir das urnas. A opinião pública também têm influência nessas decisões. E nesse ano de Copa de Mundo e de eleições, a opinião de mais de 6 bilhões de pessoas importará mais do que nunca, pode acreditar.

Três bombas em Madri, dura realidade

Muitas vezes entrei nos trens de Cercanias Renfe de Madri e comecei a imaginar como seria presenciar um atentado terrorista, como o que sucedeu 10 anos atrás perto da estação de Atocha, a mais usada e provavelmente mais conhecida de Madri. Eu começava analisando o trem: alta tecnologia, espaço para sentar e velocidade européia. Imaginava todos os passageiros sentados, como eu mesmo estava, e conseguia até enxergar a bolsa que continha bombas, que foi deixada no compartimento em cima das cadeiras. Então imaginava a cena fatal. Um segundo estava tudo bem. Explosão. E a realidade muda completamente. Quem estivesse perto das malas não poderia sobreviver e quem estivesse em outro vagão não entenderia bem o que acabava de acontecer. Um segundo que muda tudo: pessoas sãs que se machucam, pessoas machucadas que morrem. O poder de fogo realmente assusta.

Na verdade era impossível imaginar exatamente realmente o que aconteceu. Eu fazia suposições e me baseava ilusões realistas para tentar entender o que tinha acontecido no dia 11 de março de 2004. Mas nunca conseguiria me aproximar da cruel realidade: o país onde morei, minha segunda casa, tinha sido alvo de um atentado terrorista. Quando cheguei na capital da Espanha, em 2008, parecia que eram histórias inventadas. A realidade européia chocava com as imagens e eu simplesmente não entendia como um dia ensolarado virou um dia marcado por um atentado terrorista. Relatos de conhecidos deixavam meus pelos arrepiados. Um senhor de uns 40 anos que estudava comigo na faculdade e trabalhava no metrô de Madri relatou o que viveu naquele dia. Escutou a explosão e só viu o caos espalhado nos trilhos. Ajudou a levar feridos enquanto via pessoas sem membros sendo carregadas às pressas. Viu o trem completamente destroçado e uma imagem que parecia um filme de guerra americano, mas que, na verdade, infelizmente era pura realidade e dor.

Lembro de ter visto pela televisão as imagens chocantes. Mas em 2004 eu nem imaginava que iria morar naquela cidade, e o caso passou despercebido para mim, como costuma acontecer com as desgraças que sucedem em países distantes. Mas em 2008 foi fácil sentir as dores de quem estava lá, inclusive porque eles falavam um idioma que eu entendia. Passei cinco aniversários do atentado relembrando os fatos e escutando relatos dolorosos. Os depoimentos das vítimas humanizam o atentado, e, com eles, nós incorporamos as dores de quem sentiu a bomba estourando próxima à própria pele. Os relatos das famílias das vítimas também dão um “soco” de realidade na cara de quem escuta. Filhos que pegaram o trem sem saber que seria a última viagem que fariam. Mulheres grávidas que, ao sentir o calor das bombas, só pensaram nos próprios filhos. E homens caridosos que, vendo a seriedade do caso, usaram todas suas forças para carregar feridos até pavilhões esportivos próximos, considerando que os hospitais se encheram rapidamente.

Depois de um tempo morando em Madri, entendi perfeitamente o que tinha acontecido. Era estranho ver os policiais da cidade onde você mora resgatando pessoas nos trilhos da rede de transporte que você usa. No Brasil nunca aconteceu algo parecido, acho que por isso minha cabeça não aceitava aquilo como realidade. Mas, como eu disse antes, os relatos de cada pessoa choca e dão um duro banho de realidade. Se três bombas causavam um estrago tão grande, como seria ver um avião batendo no principal prédio da nossa cidade? Hoje sei que, por mais que as imagens mostrem a realidade pura, somente quem estava lá sabe bem como foi viver aquele inferno.

O espetáculo midiático dos dias que prosseguiram o atentado piorou a situação. A poucos dias das eleições, o autor dos atentados determinaria os culpados indiretos, o que teria uma influencia enorme nos resultados, considerando que o presidente Aznar apoiava a campanha de Bush no Oriente Médio. A verdade teoricamente mudaria o resultado das eleições, e na prática foi o que aconteceu. Aznar perdeu nas urnas e Zapatero começou seu mandato que duraria até 2011, quando os resultados econômicos da crise anteciparam as eleições e colocaram Mariano Rajoy na presidência.

O tempo passa, mas os atentados ainda impressionam e me fazem pensar: até onde o ser humano pode chegar para conseguir o que quer? Não condeno diretamente os terroristas, pois não conheço os motivos que animaram eles a deixar três bolsas carregadas de explosivos nos trens da cidade que amo. Acredito que eles queriam fazer, na Europa, o que sentem todo dia nas cidades que eles amam. Não passa de uma suposição, mas para mim é uma explicação que serve de justificativa, porque sinceramente não acredito que alguém possa fazer um atentado desse nível por prazer.


Já dizia Maquiavel que na política o fim justifica os meios. Governantes do mundo inteiro usam essa frase constantemente para justificar seus atos repugnantes. Acredito que os terroristas tenham feito o mesmo. Tinham um objetivo e lutariam até a morte para conseguir, sem se importar com as conseqüências. Todos os dias vemos nos jornais notícias horríveis sobre a guerra na Síria ou na África. Como disse antes, a distancia nos torna frios e, com ela, não sentimos as dores de pessoas distantes. Não sentimos as dores de quem está lá. Mas posso assegurar que ao ir a esses lugares, da mesma forma como eu fui para Madri e vivi a dura realidade, nosso coração amolece e sentimos que nenhum fim justifica meios horripilantes e cheios de malícia. E essa crítica também vale para nós, brasileiros, que costumamos usar meios truculentos para obter fins que só são úteis para nosso ego.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Os rolezinhos demonstram como somos racistas e elitistas

Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora. Há tanta vida lá fora! Não da para fingir que não nos achamos superiores que os demais. Também não podemos ignorar o fato de que a periferia sempre foi excluída socialmente das classes mais altas. Que jogue a primeira pedra quem nunca falou que aquele lugar ou objeto é “de pobre”. É um pensamento feio, mas real, que se mantém desde a época da escravidão, quando pessoas com mais recursos tinham não somente pensamentos racistas e elitistas, mas também praticavam atos repugnantes que envolviam torturas físicas e emocionais.

A desigualdade sempre existiu em nosso país e pensamentos desse tipo são reflexos dessa chaga que é, possivelmente, a mais grave de nosso país e a responsável por muitos de nossos problemas sociais econômicos e culturais. O que parece uma brecha existente entre diferentes classes sociais é, na verdade, um imenso vale que deveríamos cruzar para nos unir como sociedade. Mas não é fácil para o rico engolir o orgulho e aceitar o pobre como igual perante o Governo a Justiça. Do mesmo jeito, também não é fácil para o pobre aceitar um comportamento fraterno depois de ter sido ignorado e humilhado durante tanto tempo. É uma situação parecida com a que Mandela se encontrou quando chegou ao poder.

Já dizia Mano Brown que “o mundo é diferente da ponte pra cá”. Essa ponte que atravessa o vale da desigualdade é a que jovens dos “rolezinhos” usam para ir a lugares supostamente “elitizados”. É então que nasce o desconforto, pois alguns pensam que “eles deviam ficar no lugar deles”. Outros pensam que proibir os rolezinhos é uma demonstração clara de elitismo e pouca tolerância de quem freqüenta shoppings e outros lugares que, teoricamente, são para todos, mas que, na prática, funcionam como a casa-grande e a senzala.

Nenhum está totalmente certo nem totalmente errado. Claro que a presença em massa de pessoas da periferia causa desconforto nos mais ricos, que tantas vezes foram assaltados e submetidos a situações cruéis pelas mãos de pessoas aparentemente parecidas com as que passeiam nos shoppings. Mas condenar a presença de jovens sem motivos claros é, nos dias de hoje, assim como nos de ontem, uma decisão preconceituosa e elitista. Não adianta negar.

Se aparecem motivos para condenar os rolezinhos, eles devem ser bem fundamentados (uma briga ou supostos roubos não verificados não servem para criticar um movimento que vai tomando proporções enormes, porque ninguém daria o mesmo tratamento caso esses atos fossem praticados por jovens de classes mais altas). Nesse sentido, a imprensa conservadora se esforça para encontrar e destacar fatos que sirvam de argumento na hora de condenar essa prática, porque não pode dizer diretamente que eles são proibidos (devem manter um mínimo dos valores de um Estado de Direito, que determina igualdade para todos). Mas quer que eles acabem de alguma forma, porque essa imprensa reflete justamente o pensamento de quem não quer jovens pobres em shoppings.


Não podemos negar. Nossas classes médias e altas são preconceituosas e racistas. Eu sou assim em certas ocasiões e conheço muitas pessoas que também são. Não precisamos ter vergonha, mas é necessario admitir. É um problema cultural que provém dos séculos que duraram nosso “apartheid” não oficial. O melhor a fazer é admitir e buscar melhorar vendo os jovens funkeiros como compatriotas, como cidadãos. Porque é isso que eles são. Nem todo pobre é bandido nem todo funkeiro é marginal. Assim como nem todo americano é gordo, nem todo chinês mafioso ou todo africano é desnutrido. Podemos abrir a cabeça e aceitar, para os outros, o que exigimos para nós mesmos. Parece difícil, mas não é tanto. O primeiro passo é reconhecer. Só depende de nós.