“Apesar de
você, amanhã há de ser outro dia”... Essa frase é vista como a esperança de
muitos opositores à Ditadura Militar, cujo golpe completa 50 anos hoje, 31 de
março. Não pretendo discutir quem estava certo ou quem estava errado, mas uma
coisa é certa: não existe ditadura que faça bem. Sempre será uma mancha negra
na história e seu legado negro sempre existirá nas mentes e corpos de nossos
compatriotas. Isso porque se trata de um abuso de autoridade tremendo.
Já dizia
Bob Marley que “se você é mais forte, deve proteger o mais fraco”. Mas aqui no
Brasil essa filosofia infelizmente não se aplica, pois os mais fortes, os que têm
mais condições e os que realmente tem poder suficiente para ajudar alguém com
suas decisões costumam se preocupar somente com si mesmo e com seus
semelhantes. E o resto que se f*. Esse era o pensamento que dominava o regime e
que, hoje, também domina boa parte da população.
Isso porque
uma ditadura é puro egoísmo: calam vozes de oposição, impõem um pensamento único
e modos de conduta. Tudo que for contra o regime e seu modo de ver o mundo deve
ser exterminado. É como um pai autoritário que só acredita em si mesmo e bate
no filho cada vez que ele discorda. O que acontece com a criança no final das
contas? Dependendo do caráter dela, ou ela acata e vive oprimida ou ela se
revolta. E, no caso de revolta, o pai fica ainda mais bravo. Como será a vida
dessa criança? Como ela vai olhar e se relacionar com o mundo? É por isso que não
existe Ditadura que faça bem ao povo. Não me importo com valores econômicos,
com ideologias ou com comparações. Uma ditadura sempre será um período negro e
egoísta.
Nossa
sociedade mudou muito, mas ainda podemos ver pessoas que mantém esse raciocínio
egoísta. São justamente aqueles que pregam intolerância de raças, sexo e que não
aceitam outras ideologias. Lembra muito o pensamento militar da época. São justamente
aqueles que se revoltam e que hoje, em pleno século XXI, pedem intervenção
militar para derrubar um governo eleito democraticamente só porque esse governo
não encaixa no que eles defendem. Essas pessoas são, hoje, os pais autoritários
que ficaram velinhos e não têm mais poder para mandar no filho. Mas mesmo
assim, continuam insistindo, e nunca ficarão felizes, porque exigem dos outros justamente
aquilo que não conseguem impor a si mesmos: tolerância, respeito e compreensão.
Respondem críticas com mais críticas e nunca reconhecem um erro. Não tenho
rancor, nem ódio dessas pessoas. Tento entendê-las e respeitá-las, que é o
tratamento que eu gostaria de receber delas.
Somos uma
sociedade. Um conjunto. Pessoas vivendo baixo as mesmas condições. Podemos e
devemos nos entender para poder caminhar juntos. Caso contrário continuaremos
nos acusando, criticando e sofrendo,
assim como na época da Ditadura. Cada um tem seu ponto de vista e todos nós podemos
aprender com todos. Se achamos que estamos sempre certos nunca aprenderemos com
nós mesmos. Muito menos com os outros. Os velhinhos autoritários devem
reconhecer seus erros, mas o filho oprimido ou revoltado deve perdoar o pai. É
um esforço que vale a pena. Não existe outra forma de superar uma Ditadura. Não
adianta reconhecer erros e não perdoar. A rede Globo apoiou a ditadura,
reconheceu o erro e hoje fala disso abertamente. Quem não a perdoou ainda sofre
de raiva e impotência até ter tolerância suficiente para entender o próximo.
Todos nós,
brasileiros, estamos envolvidos na Ditadura. A forma como reacionamos é o que
condiciona a situação atual. Ainda estamos muito polarizados. Ainda somos muito
egoístas e não conseguimos entender o outro. E esse egoísmo não se aplica
somente aos simpatizantes da Ditadura, mas a todos aqueles que exigem ser aceitos
e não conseguem aceitar ao próximo. A todos aqueles que criticam a intolerância
de alguém, mas não conseguem tolerar a opinião dessa mesma pessoa. A todos
aqueles que exigem melhores condições a certas pessoas desconsiderando
completamente outro grupo não menos importante. Somos todos iguais, todos
brasileiros. Temos a mesma história e o destino do país será nosso destino.
Passaram 50
anos desde o começo da Ditadura Militar e ainda discutimos quem estava errado e
quem estava certo. É preciso menos discussão e mais compreensão. Isso porque
discutir sem tentar entender o outro não leva à nenhum lugar. Enquanto tivermos
esse orgulho exagerado continuaremos nos acusando mutuamente sem conseguir
entender nada. Então, nesse aniversário de 50 anos do Golpe, vamos tentar
superar o legado negro da Ditadura com uma forte dose de tolerância, respeito e
igualdade. Vale para todos os lados e para todas as pessoas. Chega de intolerância,
falta de respeito e de consideração pelos outros. Isso é uma democracia, não
precisamos mais de valores ditatoriais. Mas precisamos urgente de valores do século
XXI. Cultivar o respeito, a igualdade e a fraternidade já e um bom começo. Ou
então podemos continuar cavando velhas feridas. A decisão é de cada um...