1 Outro Ponto

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terça-feira, 10 de junho de 2014

Reflexão de um jornalista

Há mais de uma semana não publico nada no blog. Estava reformulando conceitos sobre minhas publicações; então aproveitei o tempo para rever ideias e reformar valores que considero antiquados em minha forma de encarar o jornalismo e a realidade. Confesso que tive um período de sombras durante toda minha vida. Deixei-me levar por ideais partidários e em muitos momentos cheguei a defender pessoas que, obviamente, também merecem críticas jornalísticas bem fundamentadas. Digo que devem ser fundamentadas porque criticar sem fundamento significa cair no mesmo erro que eu tive durante minha vida inteira: a defesa cega e partidária, digna de um fanático do futebol que considera seu time melhor que os outros mesmo que ele esteja na lanterna. Não. O mundo da política não é assim. Ele se transforma e muda a vida das pessoas, então é preciso abordá-lo com mais seriedade e defender somente quem merece ser defendido.

Mas ninguém em particular nesse mundo é perfeito a ponto de merecer uma defesa cega e fanática dessas. Então, em minha reforma interna conclui que se existe um coletivo que merece defesa nesse país, este está formado pela maioria. Sim, a maioria; vista assim dessa forma genérica e ampla. A maioria no Brasil não necessariamente está formada pelos pobres. Os interesses dela se transformam de acordo com o assunto tratado. Se o tema em pauta é a Democratização dos meios de comunicação, a maioria que se beneficiaria dessa medida não está formada exclusivamente por pessoas que, hoje, não tem voz dentro dos principais meios de comunicação do país. Nesse caso, ela se estende e chega a leitores que nem se consideram parte dessa maioria. Leitores que sequer apoiam essa medida, mas que serão beneficiados com informação plural e democrática. Tendo isso em mente, é possível entender porque defendo a Democratização dos meios de comunicação do país. Não é para prejudicar uma imprensa que bate no PT todos os dias. Mas sim para permitir que os cidadãos recebam informação plural que é direito deles!

Essa simples frase define quem é o patrão dos jornalistas: o leitor.


Defender essa maioria significa defender os interesses do Brasil. Ao entender isso, passei a ver o mundo de outra forma. Mas sempre aparecem problemas com outros temas. E então me pergunto: como definir uma maioria num assunto como a greve dos metroviários em São Paulo? São duas partes muito bem definidas, é difícil estabelecer quem representa a maioria. Nesse caso, meu bom senso me conduz a mediar o conflito. Ou seja, deixar claro para o leitor que todos coletivos têm interesses particulares e que todos têm exigências e interesses. Isso significa dar informação sobre os dois lados da história, sem defender ninguém. Mostrar como a greve foi abusiva em certos pontos e como o Governo do Estado foi inflexível na sua maneira de negociar com os trabalhadores indignados. Em meus antigos valores, eu defenderia somente os trabalhadores, pois os considerava (e ainda considero) a parte mais fraca da briga. E numa briga entre uma foca e um tubarão, eu costumo defender somente a foquinha em perigo, pois enxergo claramente como o tubarão pode se defender sozinho, afinal, ele tem dentes afiadíssimos e escamas difíceis de romper.

Mas hoje essa ideia mudou na prática. Ninguém é santo. Os trabalhadores podem estar lutando por causas justas (ou não; isso não importa nessa reflexão), entretanto, eles também atuaram de forma imprensada em alguns momentos. E agora eu pergunto: como posso defender isso sem cair na hipocrisia de ressaltar informações e ignorar outras? Simples. Eu não defendo. Só deixo claro para quem lê o fato de que todos nós cometemos erros. E é então que eu mostrarei quais são os erros de cada um, ao invés de defender um lado e atacar o outro. Fazendo isso, o leitor que defende o Governo do Estado provavelmente não gostará do que escrevi. E provavelmente quem apoia os metroviários tampouco. Mas isso, em minha cabeça, é reflexo de um jornalismo sério e construtivo. Um jornalismo que não está formado na propaganda, mas sim na intenção de vigiar os poderes, o que vem a ser a função primordial do jornalismo. Apontando erros e acertos de ambas as partes, eu não só faço um balanço neutro da história, como também deixo claro quais são os pontos a melhorar e quais são os pontos que servem de exemplo.

Isso não aconteceu, por exemplo, na cobertura que a Grande Imprensa realizou da mesma greve anteriormente citada. Ela, (como sempre) defendendo os interesses do Governador de São Paulo, ignorou informações importantes: a da catraca livre que foi rejeitada por Alckimin e a da represália que foi realizada para dar exemplo de que “greve não vale a pena” (ontem as partes tinham chegado num acordo, que foi suprimido para não “motivar” outras greves). Mas isso também não aconteceu em alguns blogs de esquerda, que denunciaram a cobertura da Grande Imprensa e ressaltaram os interesses dos metroviários, mas esqueceram do povo que sofre com a greve culpando somente o Governo do Estado e sua falta de diálogo (sendo que os grevistas também atuaram de forma abusiva em certos momentos). Enfim, obviamente os dois coletivos informativos estão corretos, jornalisticamente falando: ambos se mantêm na linha da veracidade, que é a base de um jornalismo aceitável e sério. Mas por que não informar os interesses que cada um tem para que o leitor tenha uma ideia completa do assunto? Somente os autores podem responder essa pergunta corretamente, o resto seria somente especulação e teorias que, apesar de ter uma base real, partem da imaginação.

Bom, amigos, o jornalismo é algo tão profundo, sério e influente que deve ser abordado da forma menos interessada possível, mantendo o foco pelo bem da maioria. Isso não significa ignorar completamente nossas preferências partidárias (eu sempre votarei no partido que me represente melhor minhas ideias, afinal, jornalista também é ser humano), mas é aconselhável deixá-las de lado pelo bem do leitor. Renunciar aos nossos ideais pelo bem da maioria é algo admirável, e essa é a linha do jornalismo que pretendo seguir durante minha vida inteira. É por isso que tenho admiração pelo jornalismo alternativo no Brasil. Ele costuma falar sobre a forma que a Grande Imprensa mostrou um fato e completa a abordagem do mesmo com informações relevantes deixadas de lado pelos principais meios de comunicação do país.  Quem ganha com isso é o leitor, que conhece o lado ignorado dos fatos e quais interesses cada meio de comunicação defende em seus textos. É algo que motiva a crítica e o questionamento do cidadão. É algo bom para a Democracia, onde convivem diversos coletivos com diversos interesses e formas de ver a realidade. Mas é algo ruim para aqueles que temem a liberdade, pois estes têm interesses que considerados mais importantes do que os conhecimentos do cidadão.


Por isso, eu já não olho o mundo com lentes partidárias. Agora busco o melhor para todos. As críticas e os insultos que vou receber não mudarão meu foco. Principalmente porque eles serão reflexos de um ego que tem sua própria visão, entendimento e valores. Mas, se em algum momento você, leitor, me ver defendendo alguém sem considerar as ações e fatos do “outro lado”, por favor, me avise. Prometo modificar minha visão com sua crítica, e dessa forma farei exatamente o que espero que os demais façam quando leiam meus textos.