Há
mais de uma semana não publico nada no blog. Estava reformulando conceitos
sobre minhas publicações; então aproveitei o tempo para rever ideias e reformar
valores que considero antiquados em minha forma de encarar o jornalismo e a
realidade. Confesso que tive um período de sombras durante toda minha vida. Deixei-me
levar por ideais partidários e em muitos momentos cheguei a defender pessoas
que, obviamente, também merecem críticas jornalísticas bem fundamentadas. Digo
que devem ser fundamentadas porque criticar sem fundamento significa cair no
mesmo erro que eu tive durante minha vida inteira: a defesa cega e partidária, digna
de um fanático do futebol que considera seu time melhor que os outros mesmo que
ele esteja na lanterna. Não. O mundo da política não é assim. Ele se transforma
e muda a vida das pessoas, então é preciso abordá-lo com mais seriedade e
defender somente quem merece ser defendido.
Mas
ninguém em particular nesse mundo é perfeito a ponto de merecer uma defesa cega
e fanática dessas. Então, em minha reforma interna conclui que se existe um
coletivo que merece defesa nesse país, este está formado pela maioria. Sim, a
maioria; vista assim dessa forma genérica e ampla. A maioria no Brasil não
necessariamente está formada pelos pobres. Os interesses dela se transformam de
acordo com o assunto tratado. Se o tema em pauta é a Democratização dos meios de
comunicação, a maioria que se beneficiaria dessa medida não está formada
exclusivamente por pessoas que, hoje, não tem voz dentro dos principais meios de
comunicação do país. Nesse caso, ela se estende e chega a leitores que nem se
consideram parte dessa maioria. Leitores que sequer apoiam essa medida, mas que
serão beneficiados com informação plural e democrática. Tendo isso em mente, é
possível entender porque defendo a Democratização dos meios de comunicação do
país. Não é para prejudicar uma imprensa que bate no PT todos os dias. Mas sim
para permitir que os cidadãos recebam informação plural que é direito deles!
Essa simples frase define quem é o patrão dos jornalistas: o leitor. |
Defender
essa maioria significa defender os interesses do Brasil. Ao entender isso,
passei a ver o mundo de outra forma. Mas sempre aparecem problemas com outros
temas. E então me pergunto: como definir uma maioria num assunto como a greve
dos metroviários em São Paulo? São duas partes muito bem definidas, é difícil
estabelecer quem representa a maioria. Nesse caso, meu bom senso me conduz a
mediar o conflito. Ou seja, deixar claro para o leitor que todos coletivos têm
interesses particulares e que todos têm exigências e interesses. Isso significa
dar informação sobre os dois lados da história, sem defender ninguém. Mostrar
como a greve foi abusiva em certos pontos e como o Governo do Estado foi
inflexível na sua maneira de negociar com os trabalhadores indignados. Em meus
antigos valores, eu defenderia somente os trabalhadores, pois os considerava (e
ainda considero) a parte mais fraca da briga. E numa briga entre uma foca e um
tubarão, eu costumo defender somente a foquinha em perigo, pois enxergo claramente
como o tubarão pode se defender sozinho, afinal, ele tem dentes afiadíssimos e
escamas difíceis de romper.
Isso
não aconteceu, por exemplo, na cobertura que a Grande Imprensa realizou da mesma
greve anteriormente citada. Ela, (como sempre) defendendo os interesses do
Governador de São Paulo, ignorou informações importantes: a da catraca livre
que foi rejeitada por Alckimin e a da represália que foi realizada para dar
exemplo de que “greve não vale a pena” (ontem as partes tinham chegado num
acordo, que foi suprimido para não “motivar” outras greves). Mas isso também
não aconteceu em alguns blogs de esquerda, que denunciaram a cobertura da
Grande Imprensa e ressaltaram os interesses dos metroviários, mas esqueceram do
povo que sofre com a greve culpando somente o Governo do Estado e sua falta de
diálogo (sendo que os grevistas também atuaram de forma abusiva em certos
momentos). Enfim, obviamente os dois coletivos informativos estão corretos, jornalisticamente
falando: ambos se mantêm na linha da veracidade, que é a base de um jornalismo
aceitável e sério. Mas por que não informar os interesses que cada um tem para
que o leitor tenha uma ideia completa do assunto? Somente os autores podem
responder essa pergunta corretamente, o resto seria somente especulação e
teorias que, apesar de ter uma base real, partem da imaginação.
Bom,
amigos, o jornalismo é algo tão profundo, sério e influente que deve ser
abordado da forma menos interessada possível, mantendo o foco pelo bem da
maioria. Isso não significa ignorar completamente nossas preferências
partidárias (eu sempre votarei no partido que me represente melhor minhas
ideias, afinal, jornalista também é ser humano), mas é aconselhável deixá-las
de lado pelo bem do leitor. Renunciar aos nossos ideais pelo bem da maioria é
algo admirável, e essa é a linha do jornalismo que pretendo seguir durante
minha vida inteira. É por isso que tenho admiração pelo jornalismo alternativo
no Brasil. Ele costuma falar sobre a forma que a Grande Imprensa mostrou um
fato e completa a abordagem do mesmo com informações relevantes deixadas de
lado pelos principais meios de comunicação do país. Quem ganha com isso é o leitor, que conhece o lado
ignorado dos fatos e quais interesses cada meio de comunicação defende em seus
textos. É algo que motiva a crítica e o questionamento do cidadão. É algo bom
para a Democracia, onde convivem diversos coletivos com diversos interesses e
formas de ver a realidade. Mas é algo ruim para aqueles que temem a liberdade,
pois estes têm interesses que considerados mais importantes do que os
conhecimentos do cidadão.
Por
isso, eu já não olho o mundo com lentes partidárias. Agora busco o melhor para
todos. As críticas e os insultos que vou receber não mudarão meu foco.
Principalmente porque eles serão reflexos de um ego que tem sua própria visão,
entendimento e valores. Mas, se em algum momento você, leitor, me ver
defendendo alguém sem considerar as ações e fatos do “outro lado”, por favor,
me avise. Prometo modificar minha visão com sua crítica, e dessa forma farei
exatamente o que espero que os demais façam quando leiam meus textos.