Existe muito mistério ao redor da greve de ônibus
que contribuiu com os 261 Km de trânsito São Paulo, o recorde do ano. Tudo
aponta que se trata de uma disputa política interna do Sindmotoristas, o sindicato
da categoria. Seria uma disputa política entre oposição e o atual presidente, Valdevan
Noventa. Mas, mesmo assim, muitas perguntas continuam no ar e devem ser
respondidas nos próximos dias.
Ônibus parados durante a greve. Foto da Folha de S. Paulo |
Por que os trabalhadores fizeram greve logo
depois de fechar a Campanha Salarial do ano? Essa versão da história é
altamente contestável: o que os trabalhadores ganham fazendo uma greve sem
reivindicações e sem nenhum tipo de intenção de diálogo? É como se uma criança
mimada chorasse, conseguisse uma mamadeira e continuasse chorando sem motivo. O
que a mãe faz com uma criança dela? Dá uma bronca, logicamente. Mas, o que a
criança ganha com isso?
O prefeito Fernando Haddad deu a bronca nos
grevistas. Ontem declarou que a greve é uma “guerrilha inadmissível”, como
publica o diário Brasil 247. “Como você entra no ônibus e manda o passageiro
descer? Coloca o ônibus na transversal e joga a chave fora”, questiona. O
prefeito, em entrevista à Rede Bandeirantes, considerou um “absurdo” a atuação da
minoria que fez greve mesmo depois das conquistas para a categoria. Haddad também
criticou a passividade da Polícia Militar, que foi acionada e poderia ter
atuado ao ver os ônibus abandonados no meio da rua.
Passageiros esperam pelo ônibus parado |
A questão é que os trabalhadores do sindicato
conseguiram as reivindicações que pediam: 10% no salário, ticket mensal de
alimentação de R$445,50, melhoria dos produtos da cesta básica, fim do genérico,
aposentadoria com 25 anos de trabalho, entre outras. Mas, aparentemente, as
conquistas não agradaram aos motoristas e cobradores da cidade, uma minoria que
iniciou a greve sem nenhum tipo de comunicação e sem nenhum tipo de lógica
trabalhista. Simplesmente entraram em greve, o que surpreendeu até o sindicato,
que expressou em nota sua intenção de investigar o que motivou a paralisação de
cobradores e motoristas.
Uma coisa é certa: os grevistas são apenas a
ponta do iceberg. Nenhum trabalhador atuaria dessa forma, colocando seu ganha pão
em jogo, para lutar “sozinho” numa causa que sequer apresenta reivindicações. Diante
da falta de explicações, começam a brotar n Internet diversas teorias com cara
de conspiração. Mas, como toda teoria conspiratória, elas não passam de boatos
e conclusões individuais publicadas e identificadas por leitores. A realidade
quase nunca aceita teorias desse tipo.
Vendo isso, a ideia de que a disputa interna dosindicato teria motivado a greve aparece como a causa mais provável. Fala-se em
probabilidade, pois não existem publicações, diálogos, manifestações e queixas
públicas por parte dos grevistas. Então somente quem participa do dia-a-dia do
sindicato pode saber melhor sobre o que acontece.
O que todos conhecem são brigas entre oposição
e governo do Sindmotoristas. A disputa pelo poder no sindicato já crioutranstornos. As eleições que colocaram Valdevan Noventa no controle do
sindicato seriam realizadas em julho do ano passado, mas uma confusão derivou
em tiroteio e a disputa foi adiada para outubro do mesmo ano, quando o atual
presidente, que na época representava a chapa de oposição, ganhou do então
presidente Isao Hosogi, conhecido como Jorginho. Ambos trocaram acusações deenriquecimento ilícito e ligação com o crime organizado (com o PCC,
precisamente) durante a campanha, segundo informação da Agência Estado.
Vendo todo esse panorama, é possível concluir
que a greve é política, principalmente considerando que as exigências econômicas
da categoria foram atendidas. Mas muitas perguntas ficam no ar: o que
pretendiam os grevistas, quem os comanda e como a sociedade pode conhecer o que
causou tantos transtornos na cidade. Talvez a imprensa responda algumas dessas perguntas em alguns dias. Até lá, o
paulistano deverá se conformar e tirar suas próprias conclusões sobre o tema.
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