1 Outro Ponto

1 Outro Ponto

quarta-feira, 21 de maio de 2014

A greve de ônibus é política

Existe muito mistério ao redor da greve de ônibus que contribuiu com os 261 Km de trânsito São Paulo, o recorde do ano. Tudo aponta que se trata de uma disputa política interna do Sindmotoristas, o sindicato da categoria. Seria uma disputa política entre oposição e o atual presidente, Valdevan Noventa. Mas, mesmo assim, muitas perguntas continuam no ar e devem ser respondidas nos próximos dias.

Ônibus parados durante a greve. Foto da Folha de S. Paulo


Por que os trabalhadores fizeram greve logo depois de fechar a Campanha Salarial do ano? Essa versão da história é altamente contestável: o que os trabalhadores ganham fazendo uma greve sem reivindicações e sem nenhum tipo de intenção de diálogo? É como se uma criança mimada chorasse, conseguisse uma mamadeira e continuasse chorando sem motivo. O que a mãe faz com uma criança dela? Dá uma bronca, logicamente. Mas, o que a criança ganha com isso?

O prefeito Fernando Haddad deu a bronca nos grevistas. Ontem declarou que a greve é uma “guerrilha inadmissível”, como publica o diário Brasil 247. “Como você entra no ônibus e manda o passageiro descer? Coloca o ônibus na transversal e joga a chave fora”, questiona. O prefeito, em entrevista à Rede Bandeirantes, considerou um “absurdo” a atuação da minoria que fez greve mesmo depois das conquistas para a categoria. Haddad também criticou a passividade da Polícia Militar, que foi acionada e poderia ter atuado ao ver os ônibus abandonados no meio da rua.

Passageiros esperam pelo ônibus parado

A questão é que os trabalhadores do sindicato conseguiram as reivindicações que pediam: 10% no salário, ticket mensal de alimentação de R$445,50, melhoria dos produtos da cesta básica, fim do genérico, aposentadoria com 25 anos de trabalho, entre outras. Mas, aparentemente, as conquistas não agradaram aos motoristas e cobradores da cidade, uma minoria que iniciou a greve sem nenhum tipo de comunicação e sem nenhum tipo de lógica trabalhista. Simplesmente entraram em greve, o que surpreendeu até o sindicato, que expressou em nota sua intenção de investigar o que motivou a paralisação de cobradores e motoristas.

Uma coisa é certa: os grevistas são apenas a ponta do iceberg. Nenhum trabalhador atuaria dessa forma, colocando seu ganha pão em jogo, para lutar “sozinho” numa causa que sequer apresenta reivindicações. Diante da falta de explicações, começam a brotar n Internet diversas teorias com cara de conspiração. Mas, como toda teoria conspiratória, elas não passam de boatos e conclusões individuais publicadas e identificadas por leitores. A realidade quase nunca aceita teorias desse tipo.

Vendo isso, a ideia de que a disputa interna dosindicato teria motivado a greve aparece como a causa mais provável. Fala-se em probabilidade, pois não existem publicações, diálogos, manifestações e queixas públicas por parte dos grevistas. Então somente quem participa do dia-a-dia do sindicato pode saber melhor sobre o que acontece.

O que todos conhecem são brigas entre oposição e governo do Sindmotoristas. A disputa pelo poder no sindicato já crioutranstornos. As eleições que colocaram Valdevan Noventa no controle do sindicato seriam realizadas em julho do ano passado, mas uma confusão derivou em tiroteio e a disputa foi adiada para outubro do mesmo ano, quando o atual presidente, que na época representava a chapa de oposição, ganhou do então presidente Isao Hosogi, conhecido como Jorginho. Ambos trocaram acusações deenriquecimento ilícito e ligação com o crime organizado (com o PCC, precisamente) durante a campanha, segundo informação da Agência Estado.


Vendo todo esse panorama, é possível concluir que a greve é política, principalmente considerando que as exigências econômicas da categoria foram atendidas. Mas muitas perguntas ficam no ar: o que pretendiam os grevistas, quem os comanda e como a sociedade pode conhecer o que causou tantos transtornos na cidade. Talvez a imprensa responda algumas  dessas perguntas em alguns dias. Até lá, o paulistano deverá se conformar e tirar suas próprias conclusões sobre o tema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário