O post de ontem tratou sobre a questão da consciência política que a Copa do Mundo
despertou nos brasileiros. As manifestações anti-Copa são um exemplo disso. Elas
foram realizadas nessa quinta-feira, 15 de maio, pelo Comitê Popular da Copa SP; uma articulação horizontal e apartidária de movimento sociais, coletivos e
indivíduos, segundo o manifesto publicado ontem. Esse comitê mostrou o real
descontento de muitas pessoas com a Copa do Mundo, sentimento que tem uma base
real e justa exposta no manifesto 15M. Isso porque a Copa do Mundo criou
injustiças para ser realizada. E essas injustiças acabaram ofuscando os benefícios
do maior evento futebolístico do mundo.
Imagem oficial da manifestação de ontem. Retirada da página do Facebook do Comitê |
As
principais injustiças do Mundial apareceram no manifesto de 11 causas dos
protestos de ontem, realizado pelo próprio Comitê Popular da Copa. Uma das
principais delas é o fato da FIFA e seus parceiros comerciais não pagarem impostos no Brasil, medida que já foi considerada inconstitucional pelo Ministério Público, e que torna esse mundial de 2014 o mais lucrativo para essa
entidade “sem fins lucrativos”. Com isso, a FIFA vai faturar, no mínimo, 8,8 bilhões de reais.
Ora, os brasileiros trabalham 5 meses por ano para pagar seus impostos e a FIFA
e suas “amigas” comerciais, que com certeza tem dinheiro no caixa, podem vir
fazer o evento sem contribuir com a economia nacional? Isso mostra que não é só a Globo que pode sonegar impostos impunemente aqui no Brasil. A Lei Geral da Copa
cria esse benefício que é inadmissível. As manifestações de ontem pedem “revogação desta lei e a auditoria popular da dívida
pública nos três níveis de governo, de modo a investigar e publicizar as
informações sobre os gastos públicos com megaeventos e megaprojetos, com o
objetivo de reverter o legado de dívida da Copa da Fifa”, segundo manifesto do
Comitê Popular da Copa.
A campanha
anti-Copa da mídia contribui para esse sentimento de indignação geral. Diariamente
a sociedade recebe notícias negativas da Copa, o que serve de arma política
para a oposição (nela se incluem os grandes meios de comunicação), que não
duvidam em criticar o Partido dos Trabalhadores por cada pequeno problema do país.
Isso explica o enfoque dado às manifestações de ontem. Eles se aproveitam dos
atos, destacam fotos caóticas e mostram como o Brasil “está mal nas mãos do PT”.
Enquanto isso, ignoram que a FIFA e o Governo (Governo no geral, Senado,
Congresso e Executivo) criaram, com a Lei Geral da Copa, um raio de 2 Km em que
os 20 patrocinadores do evento tem exclusividade de venda de produtos. Mas,
claro, a Grande Imprensa apóia a FIFA (a Globo faz parte dos parceiros
comerciais da entidade e também aproveita a isenção de impostos) e não
divulgaria essas informações que são de claro interesse comercial da máxima
entidade do futebol mundial. Mas, independente disso, essa medida significa o
fim dos negócios ambulantes nessas áreas, dos quais dependem muitas famílias (138
mil na capital paulista, segundo contabilização do Comitê Popular da Copa). E
também significa falta de concorrência e monopólio comercial para uma das mais
poderosas entidades do mundo e seus patrocinadores. Ganham as grandes empresas,
perde o Brasil.
Tendo isso
em mente, cabe ressaltar as remoções em massa que as distintas esferas do
Governo vêm promovendo ou aceitando nos últimos meses. Segundo o manifesto 15M,
“250 mil pessoas já foram removidas e estão
ameaçadas de remoção forçada por obras de megaeventos no Brasil”. É hora
do Estado cuidar de seu povo e conceder moradia digna aos despejados, assim
como o manifesto 15M exige. Para isso, os manifestantes pedem “realocação
chave-a-chave de todas as famílias removidas, com moradia digna, e o fim dos
despejos e remoções forçadas até que a moradia seja garantida para todos!”.
Trata-se de uma exigência justa e digna de um Estado de Direito, onde não se
encaixam as remoções forçadas e a falta de zelo de um Estado que sabe oprimir,
mas resiste em ajudar. O Governo tem tanta facilidade em mandar a Polícia
despejar e tanta dificuldade em ajudar essas pessoas despejadas que somente com
exigências em massa será possível mostrar que o povo tem mais valor que
qualquer empresa internacional. Colocando ênfase nessa questão, será possível
conseguir melhores condições de vida para essas pessoas que não tem nem onde
morar. Além disso, o manifesto pede melhoras condições para os sem-teto, o que
se traduz em: garantia de trabalho e albergues dignos.
Sem-tetos da ocupação Copa sem Povo protestam.Foto do Estadão. |
Tendo em
vista o turismo sexual com a Copa do Mundo, os manifestantes exigem “políticas sérias de prevenção e combate à exploração
sexual e ao tráfico de pessoas, com campanhas nas escolas da rede pública, rede
hoteleira, proximidades dos estádios e nas regiões turísticas, incluindo a
capacitação dos profissionais do turismo e da rede hoteleira e o fortalecimento
e ampliação das políticas de promoção dos direitos de mulheres, crianças e
adolescentes e população LGBT”. Isso porque os índices de turismo sexual
e de pedofilia costumam aumentar com a realização de mega-eventos como a Copa. Foi
assim na África do Sul e a previsão é de que seja assim no Brasil. Mais que um
problema, a Copa nesse caso é uma oportunidade de criar um programa efetivo
contra a exploração sexual de pessoas. Mas claro que essa oportunidade
necessita do apoio popular, assim como todas as outras. E daí a importância de
manifestações como as de ontem.
Do mesmo modo, os manifestantes aproveitaram para exigir preços
populares nas novas arenas “padrão FIFA”. Isso porque a Copa do Mundo vai “elitizar”o principal esporte nacional cobrando preços caríssimos e deixando para fora a
grande maioria dos torcedores, que são os verdadeiros frequentadores dos estádios
na atualidade. Estádios como o do Corinthians cobram de 50 a 150 reais por um ingresso. Por isso, os manifestantes pedem preços populares nos estádios e respeito às práticas das
torcidas. Claro que antes é necessário um estudo e planejamento, de forma que
seja possível conciliar a manutenção de preços e a volta das famílias aos
estádios. O futebol nacional tem muito a ganhar com esse ponto.
A Desmilitarização da Polícia e a Democratização dos meios de comunicação, típicas pautas atuais da
esquerda nacional, também entraram nas exigências dos manifestantes. Mas
trata-se de um assunto que deve ser resolvido com paciência, compreensão e
tolerância com as opiniões alheias, caso contrário existirão debates e mais debates
sem conclusões concretas. Considerando os interesses e vontades de todos
coletivos envolvidos nesse assunto, seria possível chegar a conclusões benéficas
para o país. Atualmente existem movimentos que levantam essas duas bandeiras.
Todos saem da esquerda política e demonstram com argumentos que é necessário
rever a atual forma de gestionar e regular a Polícia e a imprensa (ambos têm
legislações criadas no período ditatorial, o que não compactua com a Democracia
do século XXI e favorece casos de abuso de autoridade e concentração da
informação). Mas são assuntos à parte, que não serão tratados no contexto da Copa
do Mundo.
Um último
ponto tratado no manifesto é a exigência da “Tarifa Zero” no transporte público,
tema que entrou em pauta nas grandes manifestações de junho do ano passado. Trata-se
de um tema útil e necessário, mas que também ficará à parte e será resolvido
fora do contexto da Copa do Mundo. Independente disso, todas exigências do “Manifesto
15M” são justas e dignas de respeito. Devem ser bem estudadas e difundidas para
que a sociedade exija justiça e possa “desfrutar” de uma Copa do Mundo sem se
indignar com medidas que só favorecem os interesses privados.
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